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Ademir Silva

1955 - 2020

Toda semana ia à feira comprar os ingredientes da sua deliciosa feijoada.

Homem calmo, tímido, de poucas palavras e querido por todos. É assim que Ademir é apresentado pela filha Dayana. Embora não fosse de contar muitas histórias sobre sua infância, Ademir teve os pais muito presentes e a convivência com os 13 irmãos lhe proporcionou momentos felizes. “Pelo pouco que ele contava, consigo imaginá-lo como alguém muito tranquilo e calmo desde essa época”, diz Dayana.

A filha relembra como aconteceu o encontro dos pais ainda na adolescência. “Minha tia, a irmã do meu pai, namorava um homem que morava em Tijucas, município próximo de Florianópolis. Em um certo dia, ela convidou meu pai para ir com ela até lá. Foi então que seus caminhos acabaram se cruzando, pois minha mãe trabalhava em uma casa muito próxima à do namorado da minha tia”. A partir desse primeiro encontro, Ademir passou a frequentar aquela região para ver Eliete com mais frequência. Não demorou muito, após alguns encontros, os dois fugiram para ficarem juntos. Pouco depois, o casal já esperava o primeiro filho e, enfim, se casaram.

A filha conta que o início da relação foi repleto de dificuldades. Mesmo com Ademir trabalhando muito, o casal não tinha condições para comprar uma casa. A situação começou a melhorar com o apoio da família dele, especialmente quando sua mãe o presenteou com um terreno, onde finalmente conseguiu construir a tão sonhada casa para aconchegar sua família.

Por ser tímido, Ademir muitas vezes não usava palavras para expressar seu amor pela família, recorrendo a pequenos gestos que demonstravam todo seu cuidado. Era assim quando se levantava todos os dias, às cinco da manhã, para fazer o café para a esposa. Ou quando fazia questão de estar presente para comprar o material escolar e preparar o lanche dos filhos todos os dias. “Ele se preocupava muito com isso, não podíamos ir para escola sem lanche”, recorda Dayana.

A filha ainda conta que nunca aprendeu a fazer feijão porque toda semana tinha a feijoada do pai. A rotina de acordar muito cedo para ir até a feira procurar os melhores ingredientes era lei! Ao chegar em casa, já começava a cortar e separar os ingredientes, de modo que às 8 horas da manhã ele já estava colocando tudo no fogo. Dayana destaca que esse “era um momento incrível, a feijoada dele era a melhor, não tinha quem não elogiasse e repetisse”.

A felicidade de Ademir era ter a família por perto e bem. Com toda a sua simplicidade e experiência sobre a vida, partiu acompanhado pela sua amada esposa Eliete, deixando gravado seus ensinamentos, descritos pela filha Dayana: “Não abaixar a cabeça, mesmo que a situação seja muito dolorosa e por mais que o mundo todo fique contra você; o importante é guardar os momentos bons e lembrar que tudo passa, justamente porque temos um Deus vivo que nunca irá virar as costas para nós”.

Para conhecer a história da esposa de Ademir, procure por Eliete Terezinha Silva, também homenageada neste memorial.

Ademir nasceu em Florianópolis (SC) e faleceu em Florianópolis (SC), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Ademir, Dayana Gabriela Silva. Este tributo foi apurado por Giovana da Silva Menas Muhl, editado por Rosimeire Seixas, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 20 de abril de 2022.