Sobre o Inumeráveis

Albertino Zerbinato

1940 - 2020

Seu primeiro amor foi Catarina; desde que se avistaram nos jardins do Museu do Ipiranga, permaneceram juntos por quase 60 anos.

Albertino ou Bertico, apelido dado por sua mãe, era um bisneto de imigrantes italianos que carregava o ar austero em sua face e a disciplina em suas ações como frutos de uma infância difícil e dos aprendizados adquiridos na carreira militar.

Muito trabalhador, tinha como principal fonte de sustento seu trabalho como policial militar, mas estava sempre disposto a exercer inúmeros "bicos". Muitas vezes trabalhava à noite na Polícia Militar e, durante o dia, cumpria outra jornada de trabalho, ora como segurança de algum estabelecimento comercial, ora como motorista, ou ainda como supervisor em colégios particulares para complementar o sustento de sua família.

Bertico conheceu o amor da sua vida quando estava trabalhando: Catarina foi passear com sua irmã e mais duas amigas nos jardins de um museu quando o avistou devidamente fardado e logo "ficou de olho" no rapaz. Os dois se casaram e viveram uma união que atravessou quase seis décadas, até a partida dele. Tiveram três filhos, Douglas, Débora e Dorival, além dos netos, Guilherme, Giovane e Sophia, aos quais ensinou, através do seu exemplo, valores como honestidade, humildade e bondade.

Durante anos teve uma pequena chácara em Ibiúna que, depois de Catarina, foi certamente o seu segundo grande amor. Ela representava uma grande conquista e um verdadeiro refúgio onde ele podia respirar o ar puro que tanto gostava e desfrutar momentos de paz e tranquilidade depois que os filhos já estavam devidamente encaminhados na vida e todos trabalhando. Ali passava o tempo mexendo na terra, cultivando frutas e legumes. Também gostava de conversar e aprender sobre ferramentas diversas.

Exímio motorista, tinha verdadeira paixão por um fusca vermelho. A cor foi escolhida por Catarina, que queria um carro nessa tonalidade. Apesar do carro ser usado, Bertico o conservou por toda a sua vida com o maior capricho e cuidado. Foi nele que ensinou a filha Débora a dirigir e ela relata: "Tive aulas práticas com o melhor motorista do mundo. Logo, passei direto no exame da autoescola".

E as boas lembranças que conserva do pai não param por aí. Ela volta no tempo e se recorda de passagens de sua infância: "Aos domingos, quando bem menina ainda, lembro de acordar cedinho, ao som das "tiradas" do programa de rádio do Zé Béttio, que meu pai sempre escutava".

Extremamente honrado e de caráter ilibado, era dono de um coração do tamanho do mundo e demonstrava amo por meio de sua solicitude e disposição para ajudar quem precisasse. "Certa vez, meu pai ajudava na reforma da casa em que eu moraria depois de me casar; o pedreiro, que era o pai do meu noivo, estourou um cano que jorrou água por toda a parte. Meu pai entrou em desespero, pois não tinha como fechar o registro e nem poderia brigar com o "pedreiro" que seria meu sogro. No final, ele e meu futuro marido se molharam, mas conseguiram reverter o ocorrido", recorda a filha Débora.

A saudade de Bertico é constante no coração de quem o amou, e os ensinamentos e valores tão preciosos que ele deixou como legado, continuarão sendo passados de geração em geração.

Albertino nasceu em Tupã (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Albertino, Débora Zerbinato. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Ana Macarini em 3 de janeiro de 2022.