Sobre o Inumeráveis

Alberto Conceição de Abreu

1952 - 2020

Escrevia bilhetinhos para a filha e os deixava na cozinha, para que ela sempre soubesse o quanto ele a amava.

Positividade e alegria eram características que não faltavam a Alberto, e o seu alto astral era capaz de iluminar até a noite mais escura. Foi apaixonado pelo Rio de Janeiro, pelo seu emprego como vendedor de plano de saúde e pelo Flamengo, o seu time do coração. Não gostava de reclamações, preferia aproveitar cada momento com um sorriso no rosto e uma piada na ponta da língua: “a volta dos que não foram” e “os carecas de trança” eram as suas marcas registradas para os momentos de descontração. As risadas e o jeito brincalhão conquistavam todos os que estavam à sua volta, e não havia ninguém que não quisesse participar do seu círculo de amizade.

"É um soco no queixo", era o que ele dizia quando o sabor da comida o conquistava. Para isso acontecer, bastava que a refeição fosse composta por um bom feijão com arroz e o seu famoso 'pó de serra' (também conhecido como farinha). A comida preparada por sua filha, Simone, também o deixava com água na boca: era só ela dizer que estava cozinhando feijão que ele logo respondia dizendo que "já estava sentindo o cheiro da ponte Rio Niterói".

Orgulhoso de sua família, estava sempre vibrando com as conquistas dos filhos e da neta. Em certa ocasião, quando Simone precisou do apoio do pai, ele encontrou uma maneira simples de alegrá-la por meio de pequenos bilhetes deixados na cozinha antes de sair para trabalhar. “Bom dia, minha guerreira”, “minha filha linda”, “você é forte”, “você vai conseguir” eram os dizeres que, hoje em dia, se encontram bem guardados na carteira da filha.

As férias eram passadas em família e, mesmo morando em cidades diferentes, Alberto e seus filhos sempre davam um jeitinho para se encontrar. O tempo todo cheio de boas conversas, cafés, e com filmes que assistiam mesmo que repetidos algumas vezes, como: “Star Wars”, “Jurassic Park” ou “Indiana Jones". Simone relembra de um dos momentos memoráveis passados com o pai: “Há 4 anos eu e o meu marido fizemos uma surpresa pra ele. O aniversário dele caiu numa sexta, saímos de São Paulo cedinho e quando estávamos quase chegando, eu liguei e perguntei onde ele estava. Nossa, nos encontramos em frente ao hotel Guanabara na Presidente Vargas e, quando ele me via, de longe já abria os braços e vinha balançando em minha direção para aquele abraço. Fomos comer uma feijoada. Foi uma delícia.”

Alberto também tinha outro xodó além dos filhos: a neta. O seu amor por Júlia começou desde a primeira vez em que ele a pegou no colo; ela era a “batatinha do vô”. O afeto entre os dois era lindo: “oi, linda do vô” era a forma carinhosa que ele usava para cumprimentá-la.

Além de ter sido um homem memorável, Alberto também sabia como transformar uma bela paisagem em uma obra de arte através de suas pinturas. Cada pincelada era feita com carinho e precisão, na medida certa para prender a atenção dos admiradores do seu trabalho. Ele expôs, durante muitos anos, na praça general Osório, em uma feira que tem em Ipanema, no Rio de Janeiro. Aprendeu sozinho e hoje há quadros dele em vários lugares do mundo; foram comprados por turistas que se apaixonaram por seu trabalho.

Alberto gostava muito de ouvir músicas e dentre os cantores preferidos estavam sempre Roberto Carlos e Alcione, sem falar que ele guardava os seus discos de vinil com carinho.

Alberto deixou, além da saudade, um legado de amor, alegria e força para a sua família.

Alberto nasceu em Magé (RJ) e faleceu em São Gonçalo (RJ), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Alberto, Simone Cardoso Gonçalves. Este tributo foi apurado por Mariana Ferraz, editado por Mariana Ferraz, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Ana Macarini em 25 de fevereiro de 2022.