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Alcemir Urubatan Machado da Silva

1946 - 2020

Dedicou a vida em prol de outras pessoas ao conduzir sorrisos e ambulâncias do SAMU.

Por volta dos 40 anos, Alcemir escolheu a profissão que o fez salvar vidas por quase mais trinta. Ou a profissão teria o escolhido? É difícil afirmar o que é destino ou não, mas única certeza que se tem é que a sua paixão pelo trabalho era intensa. Como condutor socorrista do SAMU, enfrentava o trânsito manauara todos os dias, pois sabia que as recompensas desse serviço iam além daquilo que olhos são capazes de enxergar. Recompensas essas, que podiam ser sentidas apenas com o coração. Salvar a vida daqueles pacientes era o seu propósito.

Não é à toa que deixou o trabalho apenas quando a idade exigiu. Mas isso não o impedia de visitar a base dos colegas sempre que possível para tomar, no mínimo, um cafezinho. "Como foi o dia de vocês? Ah, sinto tanta saudade do trabalho!", era o que ele costumava dizer.

Com esses colegas, viveu momentos hilários. Certa vez, precisaram atender um caso de urgência, mas Alcemir, por conta da dicção, não conseguia pronunciar, de jeito nenhum, o endereço, de nome enrolado, para assim, repassar a informação à Unidade de Suporte Avançado. Ele só se resolveu quando pôde parar uma pessoa na rua e pedir ajuda. Depois do paciente salvo e atendido, foi uma história que rendeu boas gargalhadas, lembra o amigo Manoel.

Timi, meu Velho ou Negão, formas como era carinhosamente chamado, era alguém que costumava colocar-se facilmente à disposição. Aonde chegava era alegria e um sorriso espontâneo no rosto. Esse sorriso aberto foi uma de suas maiores marcas. Carregava o Flamengo no peito, com orgulho, e adorava uma festa, por isso, fazia questão de estar presente em todas as organizadas pelo SAMU. Também não dispensava uma cervejinha gelada até porque "faz bem pra idade", dizia ele.

Alcemir fez jus ao sobrenome. Urubatan, um termo africano para designar “pássaro”. Porque, depois de voar em sua ambulância para salvar vidas na Terra, Timi, meu Velho, alçou seu caminho para os Céus, deixando saudades e um sorriso marcado na memória.

Alcemir nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo amigo e colega de profissão de Alcemir, Manoel Araújo Lima. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Yasmim da Silva Tabosa, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 12 de setembro de 2020.