1952 - 2020
Tocar música era a maior expressão do "Aldemário das Aparelhagens". Agora, está tocando seus vinis no céu.
Em 1974, aos 22 anos, lutou bravamente por sua vida. Na flor da idade, estava em um jogo do Remo x Paysandu, inflamado clássico paraense, que de tão quente terminou em briga entre torcedores. Nela, o jovem foi agredido na cabeça, com o cacetete de um policial. Foram quase três meses em coma.
Mas Aldemário literalmente se levantou, sacodiu a poeira e deu a volta por cima. Acordou, abriu os olhinhos que, a partir daí, só enxergavam de um lado, e seguiu. Fez bonito, mesmo com alguns limites físicos que a pancada deixou - o braço e a perna direita ficaram com sequelas -, ele voltou a estudar e reaprendeu a viver.
Enfim, se formou, constituiu uma bela família (sendo um romântico à moda antiga, apaixonado por Fafá, sua esposa), escreveu poemas, foi o rei das palavras-cruzadas. "Ele adorava esse passatempo, era um craque", diz a filha Carol, ou melhor, Tutty.
Aldemário atuou como agrônomo em sua vida profissional e, em suas horas vagas, ouviu música; tocou, escreveu e, como um nato amante da música, reverberou muita, mas muita música mesmo, em sua sala/templo sagrado, que chamava de "Studio Som Jolie", onde reuniu muitos amigos queridos tocando as melhores músicas.
Em meio a tanta vida, ele foi um bem-humorado ser humano. Ele era humano, de coração enorme.
"Aldemário é o grande guerreiro de nossos corações, meu exemplo, minha melhor referência para não desistir. Há um mês ele transborda pelo universo, e com certeza toca seus vinis nos céus. Ainda não sei com se chama o que sinto, não sei se "saudade" define. Ele não tinha mais corpo para tanta vida vivida intensamente", encerra, saudosa e emocionada, a Tutty.
Aldemário nasceu em Belém (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Aldemário, Carol Abreu . Este tributo foi apurado por Viviane França, editado por , revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 1 de agosto de 2020.