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Alexander Xavier Garcia

1973 - 2020

Na infância, aventurou-se com seu avô João pelas margens do rio, entre pescarias e muitas travessuras.

Filho de Edna e Joel, Alexander foi um adulto quieto e observador. Sempre encontrou felicidade no seio da família. Sua infância foi recheada de histórias engraçadas e amorosas, advindas das relações que construiu com seu irmão e com seu Vô João, com destaque para o avô, que foi uma figura essencial na vida de Alexander. Sua cunhada, Karla, conta que o Senhor João foi a pessoa mais importante na infância do neto.

A família era fundamental para ele. Sua esposa e sua mãe eram suas rainhas. Elas reinavam em seu coração e na cozinha; faziam suas comidas preferidas, que eram arroz de forno e feijoada, cuja receita da vó Floripes - já falecida -, atravessa a família por duas gerações.

O adulto tranquilo, foi uma criança levada e que amava se aventurar com o Vô João. Louco por pescaria, avô sempre levava o neto junto para pescar. Alexander nem tinha muito gosto pela pesca, mas chegava até a faltar às aulas para acompanhar o avô, apenas pelo gosto em ficar perto dele. No caminho, brincavam de procurar matinhos perto dos rios e os colocavam nas iscas para ver quais atraíam mais peixes. O neto e o avô também se aventuravam fazendo cabanas e outras tantas brincadeiras que coloriram os tempos de menino de Alexander.

Ele e Wyllian, seu irmão, tiveram uma infância de muitas peripécias juntos. Viviam aprontando. Karla conta que certa vez, seu cunhado melou o braço de ketchup e subiu para casa do avô dizendo que tinha se machucado, deixando o Senhor João desesperado, até descobrir que era mais uma traquinagem. Outra vez, foi o irmão que aprontou com ele, presenteando-o com um desodorante, sugerindo que ele deveria beber o líquido para suavizar o cheiro do seu pum que andava muito fedido - tudo na base da brincadeira, claro; não havia maldade.

Outras histórias que enchem de graça as lembranças da família de Alexander são, por exemplo, quando uma vez ao voltar da escola ele escondeu seu par de tênis na garagem de casa e entrou dizendo ter sido assaltado. Ou ainda, a lembrança de que, quando criança, “ele achava que pés de pêssegos eram árvores de pipoca pronta para comer, por causa dos saquinhos que protegiam as frutas”, conta saudosa a cunhada.

Da infância levada e feliz, Alexander, que era extremamente comunicativo e que fazia amigos com muita facilidade, tornou-se um adolescente namorador. Já na juventude, foi um rapaz caseiro, que amava ver filmes, séries e ir ao cinema. Trabalhou por muitos anos em uma loja de artigos esportivos, embora fosse avesso aos esportes, de acordo com a cunhada. Alexander não participava ativamente do universo esportivo, mas tinha um time do coração: o Corinthians.

Nesse período, a loja onde trabalhava localizava-se em um shopping; então ao ir e vir pelos corredores, ele conheceu Luciana - que trabalhava em um quiosque de café. O flerte virou namoro, pulou para o noivado e acabou em casório. Alexander juntou duas paixões em uma só: café e Luciana; era louco por café e, por Luciana, era capaz de fazer qualquer coisa para ver um sorriso em seu rosto. Karla relata que em 2001 eles começaram a namorar, e em 2002 já estavam casados. “Ele amava demais a Luciana e fazia tudo por ela”, afirma a cunhada. O dinheiro curto no início da vida a dois proporcionou um casamento simples e sem lua de mel. Mais tarde tiveram a oportunidade de fazer uma viagem juntos à Porto Seguro, uma realização para o casal.

Da união entre Alexander e Luciana veio João Vitor, cujo nome homenageia o avô João, por quem Alexander era apaixonado. Para o filho, Alexander foi um superpai. “João Vitor, que agora tem 13 anos, foi um filho muito desejado, veio por meio de inseminação artificial que deu certo na primeira tentativa”, relata Karla. Alexander amava brincar com o filho.

Entre as vidas do Vô João e do filho João Vitor, existiu o elo Alexander, que viveu com serenidade e amor pelos seus; e que pelos últimos 13 anos realizou o sonho de ser pai e pôde deixar as marcas de seus ensinamentos e exemplos para o filho. Imprimiu na memória dos seus o jeito especial de ser pai, neto, esposo, irmão, cunhado e filho.

Alexander nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 47 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela cunhada de Alexander, Karla Cardoso Garcia. Este tributo foi apurado por Ana Macarini, editado por Bárbara Tenório, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 27 de julho de 2021.