1948 - 2020
A portadora oficial das palavras de conforto da família.
Alice tinha 72 anos recém-completados, quando partiu desse plano para outro melhor. Nascida no interior de São Paulo, a jovem se mudou para a capital "aos 20 e tantos" para ganhar o mundo, tarefa que se provou mais difícil do que esperava.
Nos anos 90, Alice decide voltar às suas origens, o Japão, para ganhar dinheiro e voltar ao Brasil. Deu certo: pouco tempo depois, retorna a São Paulo, dessa vez, com dinheiro no bolso, suficiente para comprar sua casa e um espaço no Mercado Municipal do bairro da Vila Maria.
Aos poucos, foi acrescentando tijolos a sua própria história. Casou-se, criou seus filhos e também seus netos. Fez questão de ensinar aos seus tudo que a cultura milenar japonesa abriga de mais lindo e engrandecedor.
Sua sensitividade era sua característica principal, que a tornava diferente de todos os outros. Isso porque ela transmitia essas intuições não só em palavras de conforto e de sabedoria no dia a dia de seus entes, mas também em rituais mais específicos, delicados e grandiosos, como os de luto.
Alice era a comandante oficial dos 7 rituais tradicionais do luto japonês, que consiste em celebrar 7 missas em casa, com incensos por toda parte, além de oferecer 7 tipos de salgado e 7 tipos de doces para fazer, da passagem do falecido, uma transição mais tranquila.
Hoje, Alice não pôde ganhar seus próprios rituais. A pandemia pede uma passagem sem grandes despedidas, com velório reduzido e breves adeus. Mas no coração de todos que a conheceram, a despedida é a certeza de um até logo especial e eterno, como ela foi.
Alice nasceu em São Paulo e faleceu em São Paulo (SP), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.
Jornalista desta história Gabriela Monteiro, em entrevista feita com neta Fernanda Yuri, em 20 de julho de 2020.