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Almerinda Felipe dos Santos

1936 - 2020

Abram alas, pois Almerinda vai passar com sua alegria irradiante.

Poeta da vida, cheia de amor pra dar.

Tinha um coração gigante num corpo miúdo.

Teve um livro publicado, “Buquê de amor” e fora selecionada finalista no pelo projeto Talentos da maturidade, promovido por um extinto Banco.

Era uma líder entre a comunidade sênior, madrinha do clube Elite Itaquerense, onde a melhor idade se reúne nos fins de tarde de domingo. Lá, ela dançava, cantava, distribuía as bandeirinhas e fazia a roda de oração. Teve uma legião de amigos e fazia questão de presentear cada um com mimos, às vezes feitos por ela.

Tinha muitos dons mas nada comparável ao de declamar poemas, sempre arrancava emoção da plateia.

Casou-se menina. Foi mãe aos 15 anos, do Luiz Carlos, depois vieram em sequência Sergio, Sueli e João. Ficou viúva aos 40, não casou-se novamente, não teve outros filhos, mas teve outros dois amores, um após os 65 anos, a quem levou no coração até o fim, o seu companheiro do bolero figurado.

Da vida, sempre buscou a parte mais positiva. Era despida de preconceitos e respeitava a diversidade. Irradiava otimismo.

Almerinda parecia superar fatalidades com muita facilidade. Órfã de pai e mãe desde 8 anos de idade, enfrentou violência doméstica, séria meningite antes dos 40, teve câncer agressivo aos 67 e nada tirava sua alegria de viver e estar de bem com a vida.

Ao ser infectada pela covid-19 estava internada com problema sério nos rins que exigia hemodiálise em época de pandemia.

Com isso todos seus filhos, por ficaram com ela no hospital foram infectados, e também uma de suas noras.

Ela não resistiu ao inimigo invisível e o coração da guerreira parou de bater. No seu enterro, apenas uma nora e a neta mais jovem. Nenhum dos filhos puderam acompanhar o triste enredo final de Almerinda, Merinda, Merindinha e Me, que tinha uma legião de amigos e filhos, noras, netos, bisnetos, sobrinhos e afilhados que muito a amavam.

No lugar que repousa seu corpo as árvores bailam, os pássaros cantam e um ar poético completa o clima.

Ao ser enterrada tocou-se Carinhoso, canção que lindamente ela cantava com direito a bis...

Há quem acredite que no céu começaram a realizar bailes da melhor idade e muito agito.

Não há o que duvidar, ela era síntese de alegria, a alegria.

Almerinda nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Almerinda, Sueli Batista dos Santos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Sueli Batista dos Santos, revisado por Monelise Vilela Pando e moderado por Rayane Urani em 13 de junho de 2020.