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Altamir Bindá

1955 - 2020

“Porto de Lenha, tu nunca serás Liverpool"... Sorrindo para a vida, ele sempre cantava essa música!

Amazonense raiz, nascido no interior do Estado, ele sempre teve orgulho de suas origens. Manaus era seu lugar no mundo, seu refúgio sagrado. Não cansava de exaltar as belezas naturais e a exótica culinária de sua amada terra — peixe, farinha, tucumã, cupuaçu, maracujá-do-mato, galinha cabidela... Gostava de andar na mata e desbravar o que fosse possível, sempre acompanhado de seu fiel caseiro Kelé!

Nasceu em uma família humilde. O pai, Raimundo, era caixeiro-viajante; Dona Santinha, sua mãe, cuidava do lar. Precisou trabalhar desde muito jovem, passou por dificuldades, mas nada o impediu de seguir firme na busca do seu maior sonho de ser um grande médico, "virar doutor".

Em 1982, Altamir formou-se em Medicina pela Universidade Federal do Amazonas. Com ajuda de sua esposa, Ana Maria, abriu seu primeiro consultório, no centro da cidade de Manaus. Atuava na área de pneumologia e cuidava de todos, de crianças a idosos. Ele dizia que trabalhar era um dos maiores prazeres de sua vida e que, se voltasse no tempo, faria tudo de novo.

Com a esposa, ele constituiu uma linda família. Seus olhos brilhavam ao falar dos filhos, aos quais eles se dedicaram a dar a melhor formação possível. Ângelo e Anne fizeram de tudo um pouco: praticaram esportes, tiveram aulas de instrumentos musicais, frequentaram escolas de arte e idiomas e desfrutaram de viagens. Na área acadêmica, a cobrança era maior.

Seu filho formou-se em Direito e a filha em Medicina, ambos aprovados em faculdades públicas. Antes disso, os incríveis anos dedicados à natação marcaram suas vidas. Altamir nem sempre conseguia participar de tudo, mas quando presente, nem piscava, porque os olhos ficavam vidrados em cada braçada dos filhos. Voluntariamente, colaborou por muitos anos com a natação de Manaus e seus filhos eram a sua maior inspiração.

Anne conta com admiração: “Outra grande paixão do meu pai eram os animais, tinha um jeito peculiar de amar todos eles. Os animais de casa sempre ganhavam um apelido, tinha que ser algo 'ridículo', senão perdia a graça. Também era louco pelos animais selvagens e acompanhava nos mínimos detalhes os programas do Animal Planet. Infelizmente, não conseguimos realizar juntos nosso tão sonhado safari. Mas esse sonho ainda será realizado e, no dia em que isso acontecer, papai estará presente nos meus pensamentos, vivendo essa aventura comigo".

“Viajamos muito, conhecemos lugares incríveis e inesquecíveis, mas a quantidade de dias era rigorosamente contada para manter a paz. Papai amava viajar, mas 'nada como voltar pra casa', era a frase clássica de cada regresso.”

Ele possuía também um lado boêmio e fanático por futebol que todos conheciam. Sexta-feira à noite, a cervejinha era sagrada no bar do Cipriano. Era o seu merecido descanso, a válvula de escape fundamental para manter sua sanidade. Ele conseguia manter uma rotina fixa, uma exceção para a grande maioria dos médicos, apesar de serem fundamentais os momentos de descanso com amigos e família.

Como grande devoto de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, era frequentador assíduo da novena todas as terças-feiras. Ele expressava sua fé de uma forma humilde, simples e única, que a filha achava lindo de ver.

“Ele deu seu último suspiro num Domingo de Páscoa e reencarnou para a vida eterna ao lado do nosso Papai do Céu. Dr. Bindá, conquistou vários amigos, salvou vidas, muitas vidas. Realizou sonhos, morreu como herói e deixou muita saudade no coração de todos que amava e o amavam. Papai será para sempre minha fonte de inspiração, o meu grande amor e a minha eterna saudade. Papai segue comigo, no meu coração! Amor eterno”, diz Anne para finalizar sua homenagem ao pai representando também a mãe Ana e o irmão Ângelo.

Altamir nasceu em Manacapuru (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Altamir, Anne Grazielle Lima Bindá. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 15 de maio de 2023.