Sobre o Inumeráveis

Amadeu Marques Caldeira

1942 - 2020

Solidário e solícito, era o faz-tudo na vizinhança, o típico sujeito gente boa.

Engenhoso como era, quando não estava consertando algo na casa de alguém, seu Amadeu estava no seu lugar preferido do sofá vendo televisão ou na igreja.

Teve uma vida dura. Conheceu a pobreza extrema desde muito cedo. Órfão de pai, foi deixado em um internato pela mãe, que não tinha condições de criá-lo. Acabou fugindo do orfanato e voltou a viver com a mãe e a irmã, em uma casinha de paredes de barro, infestada de barbeiros, onde todos foram infectados pela doença de Chagas.

Pouco favorecido, tinha tudo para seguir no caminho da criminalidade, mas, ao contrário, escreveu uma história linda de vida, pautada por caráter, trabalho árduo e nome limpo, do qual sempre teve muito orgulho.

Sempre reservado e avesso às festividades, fugia de aglomerações e reuniões sociais. Encerrou sua passagem pela Terra com a mesma discrição: sem velório, coroa de flores ou discursos.

Não acumulou nada de material. Não era seu objetivo. Deixa, porém, um legado imaterial de valor incalculável para três filhas e quatro netos, além de uma história de muita força, de quem nunca negou ajuda a quem necessitasse.



O Seu Amadeu era a definição do sujeito gente boa. Não tinha quem não o conhecesse na vizinhança, ou que já não tenha precisado dos seus serviços de faz-tudo. Quando não estava consertando alguma coisa na casa de alguém, estava em frente à televisão, no seu local preferido do sofá, ou na igreja.

Era um exemplo de honestidade, integridade e muito trabalho, mesmo aposentado. Ajudava com seus serviços na igreja que frequentava e não cobrava consertos das famílias humildes. Fazia questão de manter as contas em dia e deliciar sua família com uma boa alimentação quando, agradavelmente, reuniam-se aos domingos.

Conheceu a pobreza extrema desde muito cedo. Órfão de pai, com sua mãe e irmã, chegou a dormir em imóveis abandonados quando era criança. Após ser entregue pela mãe a um orfanato, por não ter condições de criá-lo, Amadeu fugiu da instituição para voltar a viver com a mãe e a irmã numa casinha de paredes de barro em Montes Claros, Minas Gerais. A casa era infestada pelo bicho barbeiro e todos foram infectados pela Doença de Chagas.

"Tinha tudo para seguir o caminho sem volta da criminalidade, mas escreveu sua história pautada na retidão de caráter, trabalho árduo e nome limpo, do qual sempre teve o maior orgulho", conta Luzinete, uma das filhas de seu Amaro.

Reservado e avesso às festividades, sempre fugiu das aglomerações, reuniões familiares e sociais. Talvez nunca tenha esquecido a infância triste, a fome, o frio e o preconceito.

"E foi com essa discrição que encerrou sua passagem pela Terra: sem velório, sem coroas de flores, sem discursos. Por imposição do protocolo para a Covid-19, desceu à cova sob os olhares de duas filhas e um genro.
Passou pela Terra sem acumular nada material, mas deixou um legado imaterial de valor incalculável para as três filhas e os quatro netos", diz Luzinete.

Amadeu nasceu em Livramento (BA) e faleceu em Sumaré (SP), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelas filhas de Amadeu, Cristiane Caldeira e Luzinete Marques Caldeira. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Mariana Coelho e Raiane Cardoso, revisado por Paola Mariz e Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 27 de dezembro de 2020.