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Amâncio da Cruz dos Santos

1947 - 2021

Seu legado é a forma como ajudou o mundo a ser melhor: empregou ética e amor em tudo o que fez.

Deixou as terras lusitanas ainda menino para viver com sua família no Brasil. Já na região metropolitana de São Paulo, começou a trabalhar na padaria do seu pai, demonstrando rapidamente que era um rapaz responsável, comprometido e com excelentes habilidades gerenciais.

Casou-se com Neusa, com quem viveu por quarenta e nove anos, até a partida dele. Os dois se conheceram em São Caetano e moraram na mesma cidade durante toda a vida. Além de muito amor, a união foi marcada por um companheirismo que enchia os olhos de quem conhecia o casal: Amâncio era um cavalheiro, extremamente protetor com a amada e com a família que construíram. Neusa, por sua vez, retribuía todo esse amor, se dedicando com afinco e carinho a ele.

Da relação dos dois, vieram os filhos, Herlander e Helder. A eles, ensinou valores preciosos como integridade e disposição em tudo o que fizessem. Encontrou-se como avô, pois era apaixonado pelos netos: Isabella, Gabriel, Carolina e Felipe. Com eles, participava de brincadeiras, especialmente, jogando bola. Orgulhoso e sempre muito presente, não faltava a nenhum evento escolar. Emocionava-se a cada aprendizado, a cada sorriso e a cada memória vivida pelos netos. É como se a cada momento que viveu como avô, fossem relíquias preciosas guardadas em seu coração.

Fazia questão de reunir semanalmente a família para que comessem petiscos juntos e conversassem sobre os mais variados assuntos enquanto as crianças brincavam ao redor. A união entre eles era tamanha que aguardavam ansiosos a oportunidade de que pudessem viajar juntos. "A lembrança mais marcante que guardo comigo, foi nossa ida para Adão, cidade natal do meu sogro, no ano de 2019. A viagem inteira foi muito emocionante! Conhecemos, inclusive, a casa onde ele nasceu. Voltar ao lugar onde meu sogro passou seus primeiros anos de vida era o grande sonho dele. Foi uma felicidade imensa realizarmos esse desejo em família", recorda a nora Paula.

Com seu comportamento formal e sempre com posicionamentos muito bem estabelecidos, por vezes, suas falas demonstravam certa rigidez. Simultaneamente, era amoroso e muito sensível, se emocionando facilmente em situações alegres e afetivas. A família brincava de que por detrás daquela "casca dura" existia uma "manteiga derretida". Possuía também uma ligação muito forte com suas raízes, sendo torcedor da Portuguesa e não resistindo aos pratos portugueses, como, por exemplo, uma saborosa bacalhoada.

Extremamente dedicado a tudo o que se propunha a fazer, trabalhou durante quarenta e oito anos na mesma empresa, tornando-se um referencial de dedicação, integridade e confiabilidade: todos o procuravam quando precisavam de uma instrução, conselho ou para um ponto de vista em alguma decisão. O trabalho sempre foi sua prioridade, pois acreditava que quanto mais alcançasse seus objetivos, mais sua família estaria resguardada.

Discreto, inteligente e muito estudioso, ajudava muitas pessoas através dos conhecimentos que adquiriu como advogado e administrador de empresas, dando orientações legais a respeito de inúmeras questões, de forma gratuita. Por vezes, a família não sabia dessas benfeitorias. "Após a sua partida, ficamos sabendo o quanto ele era querido e ajudava os outros pelas diversas homenagens que recebeu e por relatos das pessoas que ajudou. Isso nos deixou completamente emocionados e gratos pela oportunidade de conviver com alguém tão valoroso", conta Paula.

Com seu coração generoso, mantinha-se disponível e disposto para quaisquer situações, participando de diversas ações beneficentes promovidas pelo Rotary e por Organizações Maçônicas, além de coordenar voluntariamente a fundação de colégio renomado de São Caetano do Sul. Nunca deixou de se esmerar em todas as atividades que se propôs a participar, buscando sempre dar o seu melhor ao outro, como se através das boas ações encontrasse o que realmente tem valor na vida.

Na música "Como nossos pais", interpretada por Elis Regina, por quem Amâncio tinha profunda admiração, há os seguintes versos: "Quero lhe contar como eu vivi, e tudo o que aconteceu comigo. Viver é melhor que sonhar, eu sei que o amor é uma coisa boa". Foi desta forma que Amâncio viveu: cada boa ação conta um pouco da sua história. Sua retidão, em todas as áreas da vida, se tornou exemplo. Utilizou seu precioso tempo para fazer o bem e para cuidar dos seus amores. Viveu, muito mais do que sonhou. Teve certeza que o amor era coisa boa, principalmente, quando compartilhado com os outros. Com o seu coração de ouro, transformou o mundo em um lugar melhor e deixou um legado enorme a se perpetuar.

Amâncio nasceu em Adão (Portugal) e faleceu em São Caetano do Sul (SP), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela nora de Amâncio, Paula Feliciano. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Andressa Vieira, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 17 de janeiro de 2022.