1939 - 2020
Nildinha levou seu João Batista para juntinho dela, lá no céu; ele pediu, ela veio buscar.
Amazonilda sempre foi muito assertiva e gostava de resolver as coisas do seu jeitinho. Por isso, foi na frente, certamente quis chegar primeiro para deixar tudo organizado e perfeito para a chegada de seu amado. Dois dias depois, João partiu ao encontro de sua esposa querida, companheira de uma vida toda.
A família era tudo para Nildinha. Ela era a rainha para todos mas, principalmente, era rainha de João, com quem foi casada por quase 54 anos, protagonizando uma relação abençoada por Nossa Senhora Aparecida, onde imperava o amor, a fidelidade de um para o outro e a fé em Deus.
Como era a filha mais velha, foi alçada ao posto de matriarca muito cedo. Quando ela e os irmãos perderam a mãe, Vó Zefinha, Nilda era ainda uma menina. Mas, com sua personalidade forte e centrada, assumiu prontamente a responsabilidade de ser a luz que guiaria os mais novos durante toda a vida.
Nilda foi internada dois dias antes de João. Ela não sabia, mas o esposo devotado fazia as filhas passarem de carro na frente do hospital, só para ele se sentir menos distante dela. Ele chorava de saudades. A falta de Nildinha foi tanta, que João acabou adoecendo também.
Formavam um casal animado. Adoravam viajar juntos, estavam sempre planejando um passeio ou organizando uma reunião de família. “Nunca os vi de cara feia ou brigando”, lembra Nirla.
A casa de Nildinha e João funcionava como uma espécie de tribunal da família. Era para lá que os manos e manas (jeito carinhoso com que se tratavam os irmãos), corriam quando precisavam resolver uma situação difícil, dar um passo importante na vida ou dissolver um conflito. Quem dava a sentença era a mana Nilda. Ela possuía essa incrível capacidade nata de mediar questões delicadas; ponderava, refletia e sugeria sempre uma solução que promoveria o crescimento e o aperfeiçoamento moral de todos os envolvidos.
Nirla lembra que, quando tinha 15 anos, acabou repetindo o ano na escola. Seu pai, inconformado, e certo de que a menina deveria ser punida por seu deslize, recorreu à mana Nilda para ter com ela uma ideia sobre o melhor castigo a ser aplicado. Para surpresa da menina, ao final da audiência, a tia sentenciou: "Não bata! Não vai adiantar. Matricule no curso de inglês comigo, assim ela não vai ter tempo livre”. E não é que a ideia foi realmente brilhante! Nirla gostou tanto do curso, que é professora de inglês, há 34 anos.
Nilda era doce e amorosa, mas sabia exercer autoridade para educar, só pelo olhar e pelo bico que fazia, todo mundo já sabia que ela não estava gostando de algo. Ninguém ousava desafiá-la.
Mas, o lar dos tios queridos não era o lugar de honra apenas para situações solenes. As festas, todas as festas, eram realizadas ali. A família inteirinha se reunia para aniversários, festas juninas, Natal e Reveillon. Havia sempre muita fartura, não apenas de bebidas e comidas deliciosas, mas, sobretudo, de muito afeto, diversão sadia e acolhimento.
Quando os sobrinhos eram pequenos, a hora mais esperada dos natais era a chegada dos tios, João e Nilda. Eles traziam a alegria da criançada em pacotinhos caprichosamente embalados, dentro de um saco, igual a um Papai Noel. Eram singelas lembrancinhas, mas escolhidas com especial carinho para cada um dos mais de 20 sobrinhos.
O casal foi abençoado com filhas gêmeas, Jonilda e Amazoneide, mais conhecidas como Joca e Beide, que lhes deram quatro netos — um casal cada uma. Beide é mãe de Robert Willian e Beatriz; Joca é mãe de Jean Lucas e Giovanna. No entanto, era como se não fossem elas as únicas filhas do casal, no coração de João e Nilda eram acolhidos, como filhos, cada sobrinho que nascia. Inclusive, era responsabilidade de mana Nilda escolher o nome de todos os sobrinhos; e ela caprichava na criatividade. Nilda adorava inventar nomes diferentes!
Outra atuação inusitada desse casal tão querido por todos foi que, na cerimônia de casamento do neto, Robert Willian, foram eles que entraram na igreja carregando as alianças. A família é muito religiosa, católicos fervorosos e devotos de Nossa Senhora Aparecida.
A sintonia entre eles era tão incrível que, quando estavam internados, médicos e enfermeiros espantavam-se com o fato de que, se um melhorava, o outro melhorava também; se houvesse agravamento no caso de um, agravava-se o quadro de saúde do outro, da mesma forma.
Nilda e João eram tão queridos que quatro padres fizeram questão de abençoar o cortejo organizado pela família; todos seguiram em seus carros desde o hospital até a última morada, na impossibilidade de realizarem uma cerimônia mais tradicional.
As filhas, Joca e Beide, mais os quatro netos, familiares e amigos do casal tão querido sentem o coração apertar de saudade. No entanto, confortam-se com a bênção de que os amados João e Nilda fizeram sua última viagem do jeitinho que queriam: estarão para sempre juntos, perpetuando seu amor no meio das estrelas que iluminam o Céu, na amorosa companhia de Deus, Jesus Cristo e Nossa Senhora Aparecida.
Para ler a homenagem ao marido de Amazonilda, procure neste Memorial por João Batista Gama.
Amazonilda nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela sobrinha e filha, respectivamente, de Amazonilda, Nirla Freitas e Amazoneide de Freitas Gama Porto. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Ana Macarini, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de junho de 2020.