1963 - 2021
Graças à luta por uma educação de qualidade, conquistou seu espaço e, com mérito, tornou-se a diretora do colégio.
Ela tinha um coração que não lhe cabia no peito e seu amor não tinha fronteiras. Filha, mãe, irmã, tia, avó, esposa e educadora. Ana Cristina foi muitas mulheres e todas elas sabiam como ninguém que as coisas boas da vida tinham de ser compartilhadas.
Filha de Ana Maria e Nilo, Ana Cristina, mais conhecida como Pina, tinha cinco irmãos: Marcelo, Márcia, Sonia, Eduardo e Danilo; extremamente dedicada à família, sempre teve a casa de seus pais como morada. Com a perda repentina da mãe, logo assumiu o compromisso de ajudar na criação do irmão mais novo, à época, com dezoito anos, e cuidar do seu paizinho, de quem era muito amiga.
Era mãe da Bárbara, um presente concedido por Deus e fruto do seu primeiro casamento; com a filha, nutria uma relação de cumplicidade, respeito e amor, que transbordou com a vinda dos netos e bisnetos: Alice, Valentin, Gabriela e Tainá; ela dizia que eles eram sua razão de viver.
A Ana era casada com o Sérgio, carinhosamente chamado por ela de Bê, Baby ou Burugudum; com ele compartilhou sua vida. Eles se conheceram na adolescência, na Avenida Castro Neves, em uma “lavagem”, evento onde as bandas do bairro tocavam gratuitamente para animar a vizinhança, com apoio do comércio local. Naquele dia, foi somente uma paquera, mas tempos depois se reencontraram novamente, já no Carnaval, e combinaram de se ver no dia seguinte: deu namoro e vinte e quatro anos de uma relação repleta de muito amor e harmonia.
A tia Pina era muito dedicada à família e estava presente em tudo, pronta a ajudar, como quando o casamento de sua irmã caçula terminou, foi ela quem ajudou na criação das sobrinhas Andressa, Monalisa e Vanessa. Para que a irmã pudesse trabalhar, as crianças foram para a casa dos avós e a Ana, que já era professora, levou as sobrinhas para estudar na escola em que lecionava e as alfabetizou, conta a Andressa, que na época tinha só três aninhos.
Naquele tempo, passavam por dificuldades financeiras e tudo era muito regrado, faltava inclusive dinheiro para o lanche; então, a tia Ana passou a vender sanduíches na escola e, a partir daquele momento, “nunca mais tiveram fome na hora da merenda”, recorda Andressa.
Ela era uma grande pedagoga e fez a diferença na educação brasileira: trabalhou com crianças especiais e, com esforço, foi aprovada em um concurso público da Prefeitura de Salvador; como professora lutou bravamente pelo colégio em que trabalhava, vivendo situações difíceis como quando foi sequestrada por alunos, mas nunca desistiu de sua vocação.
Quando tornou-se diretora da instituição, depois de muitas lutas, pôde conhecer melhor seus alunos, suas histórias, seus familiares e levou a comunidade para dentro da escola; a partir daí, a Ana Cristina foi ganhando o respeito de todos e esse reconhecimento teve um papel fundamental para que o colégio recebesse o troféu de Modelo de referência em educação da cidade de Salvador. O cuidado que sempre teve com todos os membros do colégio, com a comunidade, representada por seus alunos e familiares, se transformou em gratidão, e essa gratidão em um abaixo-assinado para a que a prefeitura renomeasse a escola com seu nome.
Nas horas livres, a Ana gostava de fazer artesanatos e costurar. Confeccionava lembrancinhas para presentear toda a família nos aniversários, nascimentos e chá de fraldas; inclusive, fez as guirlandas da maternidade para todas as sobrinhas.
A Ana era cozinheira de “mão cheia” e sabia o que cada membro da família gostava de comer, e quando recebia visitas, preparava o que mais agradava o paladar de todos, que amavam as comidinhas deliciosas dela: a omelete com farofa, o bolo de ameixa, comidas baianas, doce de “nego bom”, sobremesa muito popular no Nordeste brasileiro, feito de banana queimada e que sempre tinha aos montes pra distribuir. Nunca faltava uma panela com comida para quem chegasse a casa dela. Tia Pina chamava todo mundo e se quisesse levar outras pessoas, ela não se importava. Dizia que “sempre podia colocar mais água para render", conta Andressa.
Ela era uma incentivadora por natureza e fomentava nas sobrinhas a paixão pelo estudo; as encorajava a serem independentes financeiramente e a não terem medo do trabalho. Estimulou a Andressa, que já fazia suas sobrancelhas, a fazer o curso e dizia que seria a sua primeira cliente de micropigmentação, quando se formasse. “Eu brincava dizendo que ela seria minha cobaia", conta Andressa.
A Ana Cristina era um ser humano incrível, que escolheu fazer o bem, e sua missão foi cumprida brilhantemente. Por onde passou distribuiu amor, gratidão e sorrisos. Foi base e exemplo para todos os que tiveram a honra de conviver com ela. “A Pina deixa uma saudade imensurável para a família, os amigos, os alunos e para o seu cachorrinho Pitoco, que era muito mimado por ela.”
"Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá." (João 11:25-26)
Ana nasceu em Salvador (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela sobrinha e filha de coração de Ana, Andressa Goes Soares. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Rosana Ana, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 7 de dezembro de 2021.