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Ana Lúcia Vieira Brito

1964 - 2021

Aliada dos estudantes, Tia Ana fazia o que podia para ajudá-los nos assuntos da secretaria da Escola Esli.

Tia Ana era a forma carinhosa como os sobrinhos-netos a chamavam. Mulher generosa e prestativa, trabalhou por mais de trinta anos na secretaria da Escola Estadual Esli Garcia Diniz, onde vários deles estudaram. Stephani, inclusive, que relata o quanto a tia era sempre muito atenciosa com os colegas de trabalho e principalmente com os alunos — "nunca a vi negar ajuda para nenhum deles".

Ana Lúcia transformou seu ofício em missão de vida, e a escola era de fato sua segunda casa, tanto em afeto como em dedicação. Era ela quem cuidava com afinco da papelada dos alunos. Amava o que fazia e era conhecida por ajudar a todos no que podia. Estava sempre disposta a dar aquela mãozinha com os assuntos relacionados ao estudo, aos trabalhos, ou mesmo para auxiliar nas mudanças de horário. Enfim, se alguém precisasse de ajuda para estudar ou para conseguir uma vaga, ali estava a tia Ana com a maior boa vontade para ajudar e incentivar.

A sobrinha Stephani se diverte ao relembrar o quanto a tia a ajudou nos seus anos de estudo no ensino médio, conseguindo a proeza inclusive de garantir que ela ficasse na mesma sala que as amigas ao longo dos anos: "Ela foi uma grande aliada nos três anos que passei nessa escola", garante. "A escola Esli era sim a grande paixão da vida dela, ela amava o que fazia".

Um coração tão acolhedor assim, era também muito corajoso e livre. Compartilhou a vida com seu grande amor, Sheyla. A relação delas era pautada por uma profunda parceria e amizade. Juntas, dividiram alegrias, desafios e preconceitos durante vários anos. Elas sonharam em mudar-se para Minas Gerais, para viverem na cidade natal da amada — inclusive Ana Lúcia aposentou-se para essa finalidade — e infelizmente não tiveram tempo.

Ela era muito animada e amava as reuniões em família, principalmente os churrascos e aniversários. A sobrinha Stephani ressalta que além das grandes virtudes de Ana Lúcia, a representatividade do amor entre ela e Sheyla também permanece muito viva, como referência para aqueles que compartilham da mesma luta LGBTQIA+, bem como para todos que com quem ela conviveu.

Ana nasceu em Antas (BA) e faleceu em Arujá (SP), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha-neta de Ana, Stephani de Sousa Felix. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Ana Helena Alves Franco, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 8 de setembro de 2021.