1941 - 2020
Uma mãezona para as crianças do colégio onde, como merendeira, servia alimentos e repartia amor.
Sempre que aparecia alguém no balcão da cozinha do Colégio Giulio David Leone, dizendo a frase “Dona Maria, pode repetir?”, Ana Maria, ou Dona Maria do Giulio, como era mais conhecida na escola do bairro de Jordanópolis, na periferia de São Paulo, chamava imediatamente a criança de lado, já com um pratinho nas mãos. “Tirando a fome daqueles que às vezes não tinham nada em casa para comer, minha mãe ajudou muita gente”, afirma seu filho, Pedro.
Ele conta que Ana Maria se doava a todas as crianças que realizaram seus estudos no colégio, desde 1976, quando começou a trabalhar na escola como funcionária pública, até 2010, quando se aposentou: "Ela ajudou a cuidar de muitos estudantes que hoje são professores, advogados, publicitários, médicos, e por aí vai..."
Ana Maria teve nove filhos, Cristina, Claudio, Edson, Pedro, Marcelo, Eliete, Elizete, Catarina e Marco, mas foi uma “mãezona” para muito mais gente no bairro: Mãe do Gima, do Betinho, do Celo, do Papi, do Dadi, do Dinho, do Galego, do Fabiano, do Rege da Dona Raimunda, do Rege da Dona Maria, do Zoio, do Delei, do Peruquinha, do Perucão, do Cheiroso, do Palmeirense, do João Roberto, da Margarida, da Claudia, da Reinalda, das meninas da Socorro e dos diversos meninos que queriam apenas mais um pratinho no Colégio Giulio”, relata Pedro.
A filha Elisete conta que a mãe, além de bondosa e dedicada aos demais, era muito guerreira e criou todos os filhos com esforço e tenacidade: “Lutou sempre, sem desistir nunca. Nunca nos abandonou e hoje estamos todos formados, cultivando o legado que ela nos deixou: a importância da generosidade e da humildade”.
Os filhos dizem que o falecimento de Ana Maria, em decorrência da Covid-19, deu-se de maneira muito rápida, privando-lhes do direito de agradecê-la por tudo que proporcionou a eles: “Por isso, agora homenageamos essa mulher, sem tristezas nos nossos corações. Somente cheios de gratidão”.
Ana nasceu em Feira de Santana (BA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 79 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelos filhos de Ana, Elisete Portão e Pedro Portão. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Renata Meffe, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 24 de dezembro de 2020.