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Ana Oliveira Sena

1934 - 2020

Carregava consigo um pedacinho do céu e tinha o dom de tornar tudo mais leve.

Amor era a marca registrada dela, aonde quer que fosse. Com 12 filhos e 47 anos de casamento, Ana sempre comentava que se casaria quantas vezes fosse possível com seu marido, Pedro Siqueira Sena.

Aos 15 anos, possuía uma rotina incomum para muitos dessa idade: era lavadeira e saía de casa antes do nascer do sol. Andava quilômetros até chegar ao igarapé mais perto, onde podia lavar as roupas dos coronéis da cidade. Sem água encanada e sem máquina de lavar, Nega Ana, como o marido gostava de chamá-la, ainda precisava fazer fogo para pôr as roupas para ferver. E assim fez por muitos anos.

Tinha quase que um dom de conseguir tornar as coisas mais leves. Com muita paciência e garra, criou todos os filhos. “Fazia de um limão, uma limonada. Foi o amor e a calmaria”, conta Gilcemara sobre a mãe.

A vida inteira foi muito cristã, o que a mantinha firme era a fé sempre alimentada no hábito de ler a Bíblia todas as manhãs. Com a mesma fé, Ana foi missionária e durante 40 anos esteve envolvida em um projeto da igreja para crianças.

Ela nunca passava despercebida, com seu jeito extrovertido e um astral único. Fazia amizades facilmente. Difícil era não se apaixonar por ela. Era amiga, conselheira, mãe, avó e bisavó, sempre em suas melhores versões. Cozinha era com ela mesma, inclusive o gosto de saudade já está no coração de cada um que a teve por perto.

O isolamento foi difícil, a vontade de estar junto num momento delicado era latente. Mas depois de uma trajetória tão forte e inspiradora, Ana vive como a lembrança mais genuína da alegria. Em seu último áudio para a filha, ela se lembrou do que sempre a manteve de pé: Deus. E, em paz, foi para sua jornada ainda mais perto d'Ele.

Ana nasceu em Porto Velho (RO) e faleceu em Manaus (AM), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Ana, Gilcemara Oliveira Sena dos Santos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ana Maria Bruzaca Gomes Castello Branco, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 1 de outubro de 2020.