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Ana Rita da Silva

1969 - 2020

Era tranquilíssima e super na dela, mas adorava ver a casa cheia para seus almoços de domingo.

Ritinha era feita de bondade, colocava a família sempre em primeiro lugar e adorava ajudar as pessoas. Foram incontáveis as vezes em que escolheu deixar de ter para dar aos outros.

O apelido, assim no diminutivo, era uma forma carinhosa de se referir à "melhor esposa, mãe e avó que alguém poderia ter", como define a filha Tuane. O coração e a dedicação, porém, sempre estiveram no aumentativo.

Casada com Nelson em uma união de trinta e dois anos, Ritinha teve apenas uma filha e ganhou dela e do genro Raphael um presente que fez seus dias ganharem ainda mais cor e alegria: a neta Nicolly. Seu núcleo familiar tinha ainda Nina, a cachorrinha por quem Ritinha era apaixonada e que era apaixonada por ela.

No dia a dia, Ritinha dedicava-se especialmente ao papel de avó. Era ela quem levava e buscava Nicolly da escola e ajudava a netinha com as lições. Estavam sempre juntas, inclusive assistindo aos desenhos animados na TV.

Aos finais de semana, todos os moradores da casa esperavam o "almoço maravilhoso de domingo" com a maionese cujo segredo só Ritinha conhecia e uma galinha preparada ao forno que Tuane garante que era "perfeita".
Depois, se juntavam na sala para assistir a filmes e séries, inclusive a Nina. Ritinha adorava assistir televisão e era fã de Velozes e Furiosos. A filha brinca que se o filme passasse mil vezes no dia, a mãe o assistiria mil vezes!

Ritinha era uma mulher simples que se entregava aos seus por meio de gestos de cuidado e afeto, como o abraço "mais forte do mundo" dado em Nicolly, como se já soubesse o que viria. Às vezes, seu sentimento também era traduzido em palavras compartilhadas no momento mais oportuno, como a declaração de amor eterno que fez à filha da última vez que se viram.

"Agora ela virou nossa estrelinha no céu; a que mais brilha", diz Tuane sobre a mãe que, mesmo supertranquila e na dela, com um jeitinho de que não gosta de chamar atenção para si, foi um ser de luz.

Ana nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 58 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Ana, Jessica Tuane Vieira da Silva Baptista. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Larissa Reis, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 17 de setembro de 2020.