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Ana Zélia Silva Araújo

1962 - 2021

Habilidosa, transformava materiais recicláveis em lindos presentes para os alunos, professores e funcionários.

"Tinha mania de mexer nos cabelos enquanto permanecia no computador, sempre enrolando os fios com os dedos. Também se assustava facilmente, fazia um escândalo", sorri Ana Suellem, ao falar da mãe, a Professora Ana Zélia. "Demonstrava muito amor e prazer em alfabetizar as crianças. Tudo o que fazia era pensando na escola e em seus alunos. Estava habitualmente disposta a ajudar, conversar, orar, aconselhar e fazer companhia. Que mulher!".

Teresinense, Ana Zélia teve 11 irmãos e uma infância muito feliz. "Meu avô era fotógrafo e fazia muitos registros da família. Já minha avó era dona de casa e mãe dedicada. Ela mesma costurava as roupas dos filhos e cuidava de tudo com um zelo especial".

Conheceu o amor de sua vida - Emílio Carlos - durante uma festa num antigo clube da capital piauiense. "Meu pai estava indo embora, avistou minha mãe chegando com a prima dela e ficou encantado com a sua beleza, cotidianamente muito vaidosa e elegante. Sem demora, ele desistiu de sair e foi logo se apresentar à ela".

Tiveram dois filhos, Ramon e Ana Suellem, construíram um lar unido e amoroso que frutificou na nora Talita, no genro Wadison e nos netos Pedro Augusto, Heitor e Ana Luíza. Era uma pessoa apaziguadora, tanto na família como em todos os lugares onde chegava: "Queria ver todos felizes. Não suportava injustiças e ajudava quem estive em apuros sempre que tinha oportunidade. Uma serva do Senhor, temente a Deus. A netinha caçula ela chamava de: "florzinha de maracujá", recebeu o nome em homenagem à avó e foi embalada por ela durante 23 dias, até ser, infelizmente, contaminada", revela.

A convivência familiar dos Silva Araújo era maravilhosa. "Meu irmão mora a algumas quadras de nossa casa e eu moro com meus pais, agora só com o meu pai. Ela nunca me deixou sair de casa, constantemente ficava abalada quando falava em me mudar, porque queria estar bem perto de nós...E era assim: toda noite jantávamos juntos e, aos finais de semana, permanecíamos juntos o dia todo. Éramos e somos muito ligados. Tudo que fazia era pensando em nós, no nosso bem-estar", relembra Ana Suellem.

Íntegra e comprometida foi crescendo profissionalmente. Em Teresina tinha uma creche filantrópica, que era mantida pela AABB. Quando o espaço foi municipalizado, ela se tornou a primeira Diretora, um sonho realizado.

"Tirava dinheiro do próprio bolso para comprar lembranças dos Dia das Crianças, do Dia dos Professores, comemorar aniversários dos funcionários da escola", ressalta a filha, acrescentando que ela envolvia a família nas atividades da instituição: "Queria tudo muito bem feito. Era perfeccionista e tinha o dom do artesanato. Entre os passatempos preferidos dela, estava produzir arte com as mãos. Ela reutilizava garrafas pet e caixas de leite transformando-as em mimos para as crianças e os professores. Talentosa, também decorava as festas de aniversários dos netos. Além disso era uma mulher de muita fé, amava colocar louvores no volume mais alto e ficar de pernas cruzadas no meio da cama, cantando junto. Lia a palavra de Deus e costumava escrever suas interpretações de leitura", recorda.

Para Suellem, a característica mais marcante de Ana Zélia era o seu "coração grande e puro". "Não desejava bens materiais e sim apenas reunir a família, ajudar os outros. Tanto que, após a sua morte, várias pessoas nos relataram sobre como foram apoiadas por ela. Histórias que não chegaram ao nosso conhecimento anteriormente, pois minha mãe fazia e se esquecia de contar".

Intensa, ela não deixava nada para ser resolvido mais tarde. "Tudo era na hora. Meu irmão e eu falávamos que era ligada nos 220 volts. Além disso, não confiava em ninguém ao volante, contudo dirigia como um foguete, já imaginou?"

Por essas e outras memórias afetuosas e divertidas é que Ana Zélia deixa um legado de fé e de alegria de viver a quem teve o prazer de conhecê-la. "Brilhante, muitos alunos e filhos deles falam de mamãe com saudade e com gratidão. Era tão cheia de vida que parece que vai voltar daqui a pouco. Nos ensinou várias lições importantes como: ser honesto acima de tudo, trabalhar com o coração, com dedicação e amor. Entretanto o maior exemplo dela foi servir a Deus sobre todas as coisas".

Ana nasceu em Teresina (PI) e faleceu em Teresina (PI), aos 58 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Ana, Ana Suellem Silva Araújo. Este tributo foi apurado por Mariana Nunes, editado por Luciana Assunção, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 14 de fevereiro de 2022.