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Anderson da Silva Lopes

1985 - 2020

Queria viver intensamente com a família e tocar o coração das pessoas. Missão cumprida!

Filho de Dona Valdenice e neto da Vó Anastácia. Dedicou seu amor, atenção e cuidado por toda vida, sendo mais que braços e pernas a apoiá-las. Era Anderson quem organizava os remédios, decifrava os exames e, mais do que o zelo com as coisas diárias, largava tudo para ampará-las porque sempre priorizou o bem-estar de suas amadas.

E seguiu sendo assim, mesmo após formar sua família tão sonhada. Casou-se com Joyce, a namorada do 3º ano do ensino médio. Dois adolescentes que começaram uma história sem grandes pretensões e assim viveram juntos, aproveitando intensamente cada dia dos dezessete anos dessa linda união.

Realizou seu grande sonho de ser pai de duas meninas. A esposa conta a linda história de amor e companheirismo vivida ao lado de Anderson, a quem sempre chamou de 'Vida': "Nossa Manu chegou primeiro, tão esperada e amada, encheu nossos corações de amor e vontade de vencer. Em seguida veio nossa pequena Rafa e nos uniu mais ainda, de uma forma inexplicável. Nossas filhas amam incondicionalmente o pai exemplar que conheceram desde o primeiro dia de vida."

Um homem esforçado, que trabalhava durante o dia como técnico em montagem de móveis e à noite como vigilante. Lutou junto de Joyce, sempre com muita coragem e o desejo de ser feliz.

Dono de um coração extraordinário e de muita sabedoria e serenidade na solução de problemas, chegava a causar irritação, ou melhor, inveja na esposa, que desejava alcançar tamanho equilíbrio.

Joyce diz que sua família também o chamava de 'Vida', pois se habituaram a desde sempre o conhecerem por esse apelido. Foi também um genro amoroso que zelava carinhosamente pelos sogros. "Meu marido era amado por todos e sempre dizia: 'a vida só vale a pena se tocarmos alguém e se pudermos fazer a diferença na vida delas'. E ele tocou muitas pessoas com seu amor e generosidade. Eu posso dizer que sou um milagre de sua luz, pois foi através dele que me tornei uma pessoa melhor."

A alegria de Anderson era estar com a família, os amigos, viajar, tomar sua cervejinha e escutar música. De gosto eclético, amava de Legião Urbana e Charlie Brown Jr a Jorge e Mateus. Dos últimos, vinha a lembrança da história do casal e por coincidência, ou, destino, como se questiona Joyce, o último show a que foram e curtiram muito, foi justamente da dupla sertaneja.

Se arrumar? Que nada! 'Largado' do jeito que estava em casa, saía, super tranquilo. Mas uma coisa Anderson não dispensava: perfume! Cheiroso, como ele só, aonde chegasse todo mundo já sentia. Até mesmo para dormir, Anderson e Joyce tinham uma noite perfumosa.

"Temos tantas histórias, mas lembra de nossa fugida pra Inhumas, meu bem?" Assim, a esposa relembra uma aventura vivida pelo casal. "Ainda namorávamos e fomos escondidos na sua moto CG azul, porque meus pais não podiam saber. À noite, na estrada, furou o pneu e não tinha borracharia perto. Veio um caminhão e meu susto foi tamanho achando que podia ser meu pai, que quase pulei do penhasco. Por sorte não era ele, pegamos carona até a cidade e fiquei numa praça sozinha esperando você dar um jeito de arrumar a moto. Passou um amigo do meu pai e me escondi. No fim das contas, nem conseguimos ir aonde queríamos, pois o dinheiro foi gasto todo no conserto do pneu." Joyce diz que essa foi uma de muitas que passaram juntos, mas que tempos depois Anderson dizia que jovem não tem juízo e que se acontecesse nos dias atuais, não deixaria nunca ela entrar naquele caminhão.

Uma de suas paixões era o mar. Ele sempre falava que ninguém podia morrer sem ver o mar. Viajava com a esposa sempre que podia, pena que não pôde conhecer tantas ondas quantas gostaria. Anderson tinha um lema: "a vida é hoje e agora, para que sofrer pelo futuro? Temos que viver!"

Sua casa foi toda pensada por ele, com amor. Curtia o lar, amava a família e isso é mais do que motivo pra Joyce não querer sair do cantinho que tanto representa seu querido esposo.

E é com esse sentimento de aconchego, que se despede de seu 'Vida': Vivemos intensamente nossa história que teve como momento mais marcante o nascimento de nossas pequenas. Estivemos mais tempo juntos do que separados. Sei que te entristece ir sem se despedir de seus maiores amores: sua família; e também estamos todos inconsoláveis. Sua mãe perdeu o filho alegre, dono de um sorriso e gargalhada inconfundível. Mas sei que você levou no coração uma alegria imensa antes de partir: a estreia de seu irmão na paternidade. Meu amor, te amamos para sempre!"

Anderson nasceu em Goianira (GO) e faleceu em Goiânia (GO), aos 34 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Anderson, Joyce Moraes Santana. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Denise Pereira, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 1 de janeiro de 2021.