Sobre o Inumeráveis

Ângela Maria dos Santos

1955 - 2020

Dona de um colo onde uma infinidade de bebês foi acalentada e onde todos os sobrinhos se aninhavam.

No coração de Nana, como era chamada em família, coube muita gente. Deu colo a uma infinidade de bebês, dos quais cuidou com gentileza e carinho ao longo de todo o tempo em que atuou como enfermeira pediátrica em um mesmo hospital. Foram ao todo trinta e oito anos fazendo o que amava fazer.

Também tiveram espaço generoso na sua vida os seis sobrinhos, a quem dedicou tempo, amor e preocupação. Custeou escolas, cursos, academias... “Fazia o possível e o impossível para nos ver bem e realizados”, conta Jamile, com a lembrança saudosa da tia. “Eu e minha irmã mais velha fomos diretamente criadas por ela e por minha avó, Nana era nosso suporte”. E completa: “Ela tomava conta da minha filha para que eu trabalhasse. Também fazia de tudo por Eva, era o novo xodó”.

Muito devota a Deus e à religião que escolheu, Ângela investiu seu tempo e sua generosidade inclusive a quem não conhecia: participava de projetos sociais em visitas a hospitais, à Cracolândia e com evangelização. Era pouco afeita às saídas e aos passeios, “às vezes conseguíamos que ela fosse ao shopping center ou apenas sentar na pizzaria próxima de casa”. Sua alegria era contagiante e fazia amigos com facilidade. Mas não deixava a sinceridade de lado nem permitia o meio-termo, seguia à risca o sim e o não.

Cultivava planos para depois que se aposentasse. Tinha vontade de viajar e conhecer novos lugares. Adquirir o próprio carro era um dos desejos, já havia até se matriculado na autoescola para aprender a dirigir.

Jamile orgulha-se das conquistas de Nana: “a vida dela foi trabalho, força e dedicação, ainda conseguiu comprar três imóveis, um deles a minha casa”.

“Amar o próximo e fazer o bem sem olhar a quem. Esse ditado popular a definiria, com toda certeza”, resume a sobrinha.

Ângela nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de Ângela, Jamile Rosa dos Santos. Este texto foi apurado e escrito por Fabiana Colturato Aidar, revisado por Lígia Franzin e moderado por Fabiana Colturato Aidar em 5 de maio de 2021.