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Ângela Maria Ferreira da Silva

1958 - 2020

Batalhadora e de bem com a vida, amava festas e passear. Cozinheira de mão cheia e boa de garfo.

Cozinhar demanda tempo e dedicação, quando cozinhamos para alguém é uma forma de mostrar como nos importamos com a pessoa, é um ato de amor. A relação entre o afeto e a comida era nítida na vida de Ângela, dona de um restaurante de pratos feitos e salgadeira, ajudava os sem-teto diariamente servindo alimento a eles. Segundo a irmã Rosiane da Silva, “ela fazia comida todo final de ano para os moradores de rua”.

Muito solícita, “gostava de tomar a frente de tudo”. Quando algum vizinho perdia um ente querido, Ângela sempre se dispôs a cozinhar para os velórios e ajudar os familiares no que fosse preciso. Era tão querida que, segundo a irmã, “não ia caber tanta gente” em seu velório.

Além de gostar de um fogão, ela também era boa de garfo. Quando acontecia um churrasco, se sentava em frente à churrasqueira. Descrita como uma senhora “gordinha”, todos da família se lembram como ela gostava de comer, sempre ficava sentada e pedia as coisas nas festas.

Aliás, ela amava uma festa, dançava e participava de todas as brincadeiras disponíveis nas festividades. Também gostava de comemorar o próprio aniversário e ouvir a 94.9 FM, Rádio Alvorada.

Quando Rosiane ia passear em um sítio na cidade de Pará de Minas ou em Resende Costa, Ângela fazia questão de ir junto, porque adorava andar de carro: “Mesmo não indo pra comprar nada, ela sempre ia”.

Entre tantas coisas que faziam Ângela feliz, a maior paixão era sua única filha, Liliane Ferreira da Silva, hoje com 41 anos.

A irmã conta que Ângela ajudava a mãe, Cecília Rosa da Silva. “Todo mês ela dava dinheiro para minha mãe. Quando estragava alguma coisa, ela e nossa outra irmã já tomavam a frente. Ela passava o cartão, dava a mais. Como se fosse um pai. Tanto que eu sempre chamava ela de ‘paín’, brincando”.

Uma mulher guerreira, ficou viúva de Raimundo Ferreira quando a filha do casal, Liliane, tinha apenas sete anos. Antes de ter o restaurante, ela lavava roupas, fazia faxina e vendeu salgados na porta do fórum de Belo Horizonte, para complementar a renda. “A filha dela tem uma imagem na memória, a mãe vinha com uma trouxa (de roupas) na cabeça e ela com outra”, lembra Rosiane.

Mesmo com as dificuldades, não reclamava da vida. Será sempre lembrada pela sua alegria e vontade de ajudar o próximo.

Ângela nasceu em Carvalho de Brito (MG) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 62 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela irmã de Ângela, Rosiane da Silva. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Isabela Alvarenga, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 14 de dezembro de 2020.