1944 - 2020
Com alegria e maestria, construiu embarcações que transportavam gente e esperança pelos rios do Norte do país.
Seu Antenor foi um esposo, pai, avô e bisavô muito apaixonado pela família. Com o mesmo coração, também amou imensamente a vida e seu trabalho na carpintaria naval, além dos amigos que fez ao longo de sua jornada.
Por quase 56 anos foi casado com dona Nazaré, mãe de seus oito filhos biológicos: Eli, Audrina, Roneti, Elielson, Eliilson, Antenor Júnior, Alcinete e Dalma. Antes da união, Nazaré teve Margareth do Socorro, que Antenor criou com todo o carinho. O casal ainda adotou Frank, Renato, Fabricio e Margareth Renata, e todos tiveram um pai carinhoso e exemplar.
Pode até parecer muita gente, mas para seu Antenor ainda era pouco porque ele gostava mesmo era de casa cheia. Tratava noras e genros como filhos. Para sua alegria, os casais que se formaram lhe deram vinte netos e nove bisnetos, com os quais criou um laço todo especial por meio de um ritual que mesclava singeleza e alegria.
É a nora Andreia que conta que, "quando as crianças nasciam e saíam da maternidade, tinham que ir direto para a casa de Antenor, dormir no peito dele para se acostumar logo com o vovô". Ele ainda aproveitava para dar logo um apelido divertido ou inusitado aos pequenos, a exemplo de Foguete e de A Cara Chata do Vovô.
A proximidade dos corações conectava almas, inclusive porque Antenor tinha cabeça de homem e coração de menino, era idoso, mas tinha alma jovem. Sempre que podia, ele se divertia com os netos e bisnetos. Dançava com eles e até inventava músicas para essas danças.
Antenor adorava as crianças, mas também valorizava a companhia dos demais familiares, inclusive de seus amados irmãos e irmãs. Fazia questão de que os almoços de domingo fossem em sua casa e gostava de mesa farta para servir bem a todos. Ele próprio era fã de caldeirada de filhote, peixe conhecido da região, e de dividir uma boa cervejinha com a família.
Irreverente, tinha a mania de bater palmas e cantar o "vira, vira, vira!" sempre que um copo de cerveja era servido a alguém, seguindo até que a pessoa secasse o copo. É que seu Antenor era muito alegre e divertido, um baita contador de histórias e de piadas que também adorava fazer pegadinhas com os outros.
Andreia lembra que o sogro trocava o adoçante por água, adoçava a água da geladeira e apimentava a comida. Também costumava indicar uma loja dizendo que lá tudo era barato, mas a loja não existia. Se alguém perguntava onde ele havia comprado tal coisa, respondia "na Teté", a loja inventada em sua brincadeira.
Até no trabalho seu Antenor tinha esse jeitão descontraído de ser. Apelidava os colegas e era chamado por eles de Gatão. Dono de uma inteligência ímpar, acordava às cinco da manhã para construir embarcações com total maestria, mesmo sem nunca ter cursado faculdade na área. Fez barcos grandes, bonitos e vistosos, criados para transportar gente e até para levar internet a comunidades ribeirinhas em um projeto de inclusão digital.
Antenor era iluminado e generoso, de hábitos simples e sempre disposto a ajudar. Tinha uma alegria contagiante e princípios valorosos que guiaram a educação dos filhos. Todos os homens seguiram sua profissão e, junto das filhas, de dona Nazaré e dos netos e bisnetos, são guardiões de um legado que passa, sobretudo, pela união da família.
Antenor nasceu em Afuá (PA) e faleceu em Macapá (AP), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela nora Andreia e por toda a família de Antenor. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Larissa Reis, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 5 de outubro de 2020.