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Antônia Cossalter Todesco

1933 - 2021

O sotaque e a nacionalidade podiam até ser italianos, mas o coração era brasileiro, não havia como negar.

Querida por todos que a conheceram, era uma italiana encantadoramente brasileira.

Foi casada por mais de sessenta e cinco anos com o amor da sua vida, Giovanni. Com ele, dividiu momentos difíceis e cansativos, mas também dias ensolarados e felizes. Formavam um casal lindamente apaixonante, que fortaleceu a união ao longo dos anos com muito afeto e respeito, sempre seguindo as regras da proporção: quanto mais o tempo passava, mais o amor aumentava.

Juntos tiveram quatro filhos que aprenderam com os pais um pouquinho sobre dificuldades, algumas coisas sobre a vida e muito sobre amor. Foram um casal exemplar, que sempre fez de tudo pelo bem, a felicidade e a realização dos filhos. É porque como todos papais corujas, sabiam que seriam felizes vendo a felicidade de sua prole.

Com uma franqueza que era só sua, Antônia não tinha papas na língua. Às vezes, acabava magoando as pessoas com sua tremenda sinceridade, mas não fazia por mal, era o “jeito Antônia” de ser. Conservava os poucos amigos que tinha no coração e na vida, porque sabia que, quando o assunto é amizade, a qualidade vale mais do que a quantidade, e os seus amigos eram de ótima qualidade, ela podia garantir.

Amável, sempre tinha tempo para ouvir as pessoas que amava. Gostava de sentar no cantinho dela e bater papo, tomando o cafezinho que preparava. Adorava viajar, mesmo quando estava doente ou sem muita disposição. Nada tirava a alegria de um bom passeio. Adorava tricotar.

A italiana mais brasileira de São Bernardo do Campo deixa saudade em todas as pessoas que tiveram a incrível sorte de esbarrar e dividir um pouquinho da vida com ela. Sem dona Antônia o mundo perde um pouquinho de carisma e muito de um bom tricô. Os dias parecem um pouco mais longos com a ausência da boa ouvinte e até mesmo a sinceridade exagerada faz falta. Do outro lado, a italiana mais brasileira que já existiu segue amando e protegendo os seus, orgulhosa da família que criou e dos amigos que cativou, com a certeza de que o reencontro acontecerá quando for a hora, e ele vai ter gostinho de café e muita franqueza, sem papas na língua.

Antônia nasceu na Itália e faleceu em São Bernardo do Campo (SP), aos 87 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela nora de Antônia, Vanda Celia Morgado Todesco. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Bárbara Aparecida Alves Queiroz , revisado por Lígia Franzin e moderado por Lígia Franzin em 30 de março de 2021.