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Antônia Leônia da Silva Siqueira

1963 - 2020

Sempre lia dois livros ao mesmo tempo.

Essa "leoa", cheia de amor no peito, foi uma mulher muito forte. Ela tinha 12 anos quando deixou o Ceará, onde viveu muitas dificuldades, e seguiu para Piedade, em São Paulo, levando consigo a alma guerreira que era só dela.

Casou-se muito cedo, aos 15 anos, o que não a impediu de estudar, trabalhar e cuidar muito bem da família. Exemplo de dedicação, força e determinação, Dona Antônia fez supletivo, formou-se em Enfermagem e nunca mais parou de estudar. "Foi para cuidar de gente que ela nasceu, ela sempre teve o dom de cuidar”, relata a filha, Camila.

Dona Antônia era uma leitora assídua e estudar era uma das suas maiores paixões. “Não me lembro de tê-la visto um dia sequer sem ler um livro".

Sua garra transparece em tudo o que fez na vida. Foi enfermeira, acupunturista, terapeuta, psicanalista, professora de enfermagem, massoterapeuta, cromoterapeuta — e a pessoa mais acolhedora que passou por Piedade. “Ela tinha uma generosidade genuína e nunca esperava nada em troca; inclusive, com o passar do tempo, vamos descobrindo mais e mais pessoas que ela ajudava", revela Camila.

O cuidado com a família era evidente em cada decisão de Dona Antônia. Foi casada por trinta e quatro anos com o pai de seus três filhos; depois que se separaram eles continuaram amigos e ela nunca deixou de cuidar dele. A mãe "leoa" foi também uma avó maravilhosa. “Ela foi a maior incentivadora dos nossos sonhos e sempre estava pronta para nos ajudar... era a irmã mais velha, a nossa segurança", diz Camila.

Dona Antônia era kardecista e vivia dizendo para a filha: “Obrigada por me escolher como mãe”. Camila diz que gravou essa frase na memória, feito tatuagem, e declara: “Éramos cúmplices e com uma sintonia afinadíssima!"

Medicinas e terapias alternativas sempre farão lembrar Dona Antônia. Seu dom de cuidar fez com que se realizasse profissionalmente e formou o seu jeito de demonstrar amor: aconselhando, sempre. Guiava as pessoas queridas com orientações de saúde, e tinha sempre alguém ou algo para indicar. “Para minhas tias ela era uma presença constante, aconselhando e acalmando. E para nós, os filhos, era a mão estendida, muitas vezes com auxílio financeiro ou com conselhos para 'colocar a cabeça no lugar', apaziguando os ânimos".

As memórias da convivência com essa mulher forte transbordam sua filha. “Na minha época ela trabalhava meio período, e toda tarde deitava-se no sofá e me colocava deitada entre as suas pernas para eu assistir TV enquanto descansava”, lembra afetuosamente Camila. "Vivia por um cochilo pela tarde e 'ai de quem a acordasse'. Teve uma vez, inclusive, em que meu irmão Fernando a chamou, pois minha madrinha estava ao telefone; quando ela acordou bastou um olhar para que meu irmão inventasse rapidamente uma desculpa!”

Ela era vaidosa e estava sempre deslumbrante. Vivia enfeitada por pulseiras e colares. Quando se escutava o "bling-bling" das pulseiras, podia-se ter certeza de que era Dona Antônia chegando. Amava fazer palavras-cruzadas, queimar incensos, comer pizza tomando café e não ficava sem meias nos pés, independentemente da estação do ano. Também gostava de viajar e tinha o sonho de conhecer Portugal quando terminasse a pandemia.

A personalidade forte e a singularidade inigualável de Dona Antônia fizeram dela uma mulher única e inesquecível. Inteligente, perseverante e estudiosa, uma pessoa admirável!

Que sua coragem, sua força de vontade e sua alma guerreira pairem sobre todos aqueles que tiveram a sorte de conviver com ela. Fica a saudade apertada e as memórias e ensinamentos que deixou.

Antônia nasceu em Fortaleza (CE) e faleceu em Sorocaba (SP), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Antônia, Camila da Silva Siqueira. Este tributo foi apurado por Giovana da Silva Menas Mühl, editado por Rebeca Anzelotti , revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 16 de agosto de 2021.