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Antonia Maria Camargo

1947 - 2020

Mulher forte, dona do coração mais doce e do sorriso mais lindo que já existiu. Uma verdadeira joia rara.

Dona Antonia era apaixonante. Não tinha uma pessoa que a conhecesse que não se apaixonasse por ela. Querida pela vizinhança toda, não hesitava em cumprimentar cada um. Seu jeito doce deixava a vida mais gostosa e o mundo mais aconchegante. Fazia de seu colo, lar e de seu sorriso, luz. As horas voavam ao seu lado, pois era sempre um prazer ouvi-la contar histórias de quando era criança ou conversar sobre qualquer assunto.

Sempre tão animada e risonha, vivia relembrando o tempo da roça (como ela chamava Martinópolis, cidade em que viveu até seus 15 anos) e suas travessuras: matava aula para nadar no rio e andar a cavalo com seus amigos. Foi uma menina sapeca e, quando fazia arte, se escondia de sua mãe — que era brava, por sinal — para não levar bronca.

Dona de si e protagonista de sua história, foi também avó, mãe de duas filhas, esposa do amável Seu Chico e professora da vida. Ensinou-nos o que é família; o amor e como amar e, sobretudo, a sermos quem quiséssemos ser, sem medo.

Símbolo de força e atitude, estava sempre disposta e feliz. Levava tudo na esportiva, como seus vários tombinhos. Enquanto ficávamos preocupados, ela caía na gargalhada. Não havia tempo feio para ela. "Foi uma avó de contos de fadas", diz a neta Luana, que arremata: "lembro como se fosse ontem, dos penteados que fazia em seu cabelo quando eu era criança, ao som de Xuxa, e de todas as vezes que ela dormia comigo quando eu estava com medo."

Tinha suas manias, como cochilar no sofá sem se preocupar com a hora. Sua fruta preferida era a melancia. Era, também, de uma inteligência e de uma criatividade brilhantes. Adorava matemática e números. Engenhosa, fazia tudo com tamanha perfeição, como sua comida e seus bolos, que eram dignos de um restaurante cinco estrelas. Tinha um brilho único nos olhos.

Toda essa beleza interior refletia em seu exterior. Foi uma mulher belíssima. Seus cabelos pintados na cor castanho-dourado eram fortes como sua personalidade. Sua pele era macia como seu carinho. Seus olhos castanhos, cobertos de empatia e doçura, combinavam perfeitamente com seu sorriso radiante. Era, ainda, elegante. Não apenas em seu jeito de se vestir ou mesmo de andar, mas também, em suas palavras.

Não há dúvida, Dona Antonia, Dona Antoninha, ou ainda, "nossa veinha", nos deixou como legado o amor, o cuidado, a fé, o carinho, a coragem e a gentileza. E, não há dúvida também, que o aperto no coração e a saudade ficarão para sempre. Ah, que falta a senhora faz!

"Não nos preocupávamos com os dias nublados, pois tínhamos Dona Antonia", finaliza Luana, demonstrando seu amor e o de toda a família.

Antonia nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Antonia, Luana Camargo Bianchi. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Lígia Franzin, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de outubro de 2020.