1936 - 2020
Uma nordestina que gostava mesmo era de roça. Viu o mar apenas uma vez.
Antonina Batônio, como era conhecida, foi uma nordestina batalhadora, criou oito filhos e nunca teve ambição de ter fortunas ou conforto. Viveu da agricultura a vida inteira e adorava cuidar da roça quando ainda tinha saúde para limpar, plantar e colher.
"Minha avó Tuninha gostava mesmo era de sítio, de roça... Sentia grande alegria quando a chuva vinha, para poder plantar e colher. Ela se realizava trazendo o alimento pra casa, garantindo assim o sustento dos filhos", conta Cleonice.
Gostava de rezar nas novenas e procissões. Antonina aproveitava qualquer pedacinho de tecido para fazer uma roupinha, costurava com suas próprias mãos. Como acordava cedo, gostava muito de cantar "Acorda Maria Bonita / Acorda vai fazer o café / O dia já vem raiando / E a Policia já tá de pé"
Viúva de Sebastião Rodrigues, há algum tempo tinha a saúde já debilitada e vivia mais em casa. Quando era mais nova, sonhava em ter seu próprio sítio, com uma casa grande, de alpendre, e muitas árvores com frutas. Na velhice até os sonhos já não existiam mais.
Conheceu o mar, numa noite, em Fortaleza. Embora sem a nitidez da beleza das águas claras, ela pôde ver o quanto era imenso e, pela ingenuidade, chegou a compará-lo com um grande açude que não secaria nunca, dizendo: "Oohhh... açudão grande, minha neta!"
Agora, nas primeiras horas das manhãs, faltam as cantorias de Antonina Batônio, a nordestina que teve uma vida tão simples quanto foram seus sonhos.
Antônia nasceu em Pedra Branca (CE) e faleceu em Quixeramobim (CE), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de Antônia, Cleonice Oliveira das Chagas. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Lígia Franzin, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 13 de setembro de 2020.