Sobre o Inumeráveis

Antonieta Santos Moraes

1932 - 2020

Mulher de muitas paixões, descobriu outros dons na felicidade. Escreveu um livro e viveu tudo o que imaginou.

Desde menina, Antonieta era chamada de Tiêta, um apelido muito apreciado por ela.

Concluiu apenas o ginásio – hoje chamado de quarto ano do ensino fundamental – por decisão dos pais. Ela desempenhou várias atividades além de ser dona de casa, como costureira, comerciante, professora e pintora.

“Aos 14 anos conheceu o amor da sua vida. No baile, dançaram a música Esmagando Rosas que ficou para sempre na memória de todos”, relembra a filha Rita ao contar o começo da história dos seus pais. Com 15 anos, Tiêta ficou noiva de Enádio e dois anos depois se casou. “Para uma moça do interior da Bahia, de beleza única e que namorava um rapaz da cidade grande, casar era a possibilidade de unir o amor e a oportunidade de mudar o destino não desejado”, recorda Rita. O casal teve sete filhos, 16 netos e 10 bisnetos.

Tinha o dom da costura, aprendeu aos 10 anos de idade, e chegou a virar noites e noites costurando na máquina para atender clientes e ajudar nos gastos familiares.

Quando jovem, ela adorava viajar. Curtia as excursões para outros países, conhecer lugares diferentes e pessoas diversas. “Foi à Disney cinco vezes, lá conseguia viver o sonho de uma infância bem diferente da sua”, conta Rita.

Já na terceira idade, Tiêta cursou a Faculdade da Felicidade, ali teve diversas aulas, como pilates, teclado e pintura. As de coral e dança eram as suas preferidas.

Tinha paixões inumeráveis: viajar, cantar, pintar telas, estar com a família, lembrar-se do único amor e também escrever.

Ela se divertia contando histórias da carochinha para os netos e quando encontrava alguém, seja lá quem fosse, narrava suas histórias de vida e suas gaiatices. Em 2019, reuniu seus causos e lembranças em um livro chamado “Histórias e Estórias de Tiêta”.

Seu apetite era voraz, como lembra a filha Rita. “Sempre comeu muito e não engordava. Comia de tudo e com muito prazer. Assaltava a geladeira à noite e sempre tinha algo escondido no armário. A banana era acompanhamento em todos os almoços. Às vezes comia até três por dia.”

A relação com a família e os amigos sempre foi de muita amorosidade. Era querida, acolhedora e divertida com todos. Uma mulher alegre, divertida e muito grata a tudo e a todos. “Fui muito feliz nessa vida. Vivi tudo que imaginei. Os meus 90 anos será uma festa cor-de-rosa, assim como foi a minha vida”, ela sempre dizia. Infelizmente, não deu tempo de comemorar.

Tiêta é luz, cor e amor que nunca se apagará.

Antonieta nasceu em Feira de Santana (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 88 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelas filhas de Antonieta, Nadja Nara Moraes Villas Boas e Rita de Cassia Santos Moraes. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mateus Teixeira, revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Rayane Urani em 26 de abril de 2021.