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Antônio Carlos Gouvêa

1965 - 2020

O carinho de Antônio morava no seu bom-humor diário, na suas doses de empatia e amor, e nos discos do Raul.

Antônio trabalhava com entregas em transportadora. Sempre voltava para casa com uma história diferente, uma aventura vivida durante a entrega. Cativava os clientes e gostava de contar para a família as proezas que vivia no emprego que tanto o alegrava.

Foi casado por 34 anos, muito feliz com a companheira de jornada que teve. Apesar das desventuras que todo casal sempre tem, o respeito e carinho falaram mais alto. Os dois construíram um sólido e amável casamento e serviram de exemplo para os que tiveram a sorte de acompanhar esse amor tão bonito.

Teve dois filhos e foi pai presente. Antônio fez o que estava a seu alcance para realizar os filhos, de certa forma realizando-se também a cada conquista deles. À sua maneira, era amoroso e brincalhão e criou os filhos da melhor forma que pôde, com educação, amor e carinho.

Amava se reunir com a família. Era apaixonado pelos sobrinhos, e a afilhada Deise tinha um lugar especial no coração do padrinho. Juntos, viveram aventuras e amores que apenas os dois conheceram.

Não gostava de ver ninguém triste. Estava sempre aprontando alguma pegadinha, fazendo uma brincadeira para ver os que amava sorrindo. Muito comunicativo, vivia tagarelando por aí e arrancando sorrisos e afetos de quem convivia com ele. Era generoso e fazia questão de ajudar as pessoas que dele precisavam em qualquer situação.

Gostava de descontrair os amigos e familiares sempre com a frase “eu sou a terceira pessoa depois de ninguém”, fazendo quem a ouvisse cair na gargalhada.

Apreciava beber uma cervejinha, principalmente se acompanhada de frango à passarinho. Fã de MPB, amava ouvir Raul. Também se arriscava na cozinha às vezes, e sorte tinha quem estava por perto nessas ocasiões. A comida de Antônio era saborosa e especial: tinha gosto de amor temperado com muitas pitadas de bom humor.

Quando Antônio se foi, uma parte da graça deste mundo deixou de existir. Raul Seixas foi meio profeta quando escreveu a música preferida do caminhoneiro. “O dia em que a Terra parou” parecia já prever um pouco do que aconteceria quando Antônio partisse. Familiares e amigos sentem saudade constantemente, mas Antônio viverá para sempre nas memórias dos que o amavam. Em uma cerveja gelada, numa boa risada, em um disco do Raul.

Antônio nasceu em Américo Brasiliense (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Antônio, Patrícia de Oliveira Gouvea. Este tributo foi apurado por Hélida Matta , editado por Bárbara Aparecida Alves Queiroz , revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 11 de março de 2021.