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Antônio Carlos Ribeiro de Araújo

1967 - 2021

Eleito pelos sobrinhos o tio mais animado da família. Com ele, qualquer coisa era desculpa para aproveitar ainda mais os passeios.

Essa é uma carta aberta de Ana Paula Ribeiro para o seu tio, Antônio Carlos:

Especialmente brincalhão e carinhoso com a família, amava declaradamente sobrinhos e sobrinhas, sua companheira, seus irmãos, seus animais - o Tom e o Lourinho -, viagens para Guarapari e os seus times do coração: Goytacaz e Flamengo.

Meu tio tinha um monte de calopsitas, um louro e um pastor-alemão, o Tom. Ele gostava muito de ficar na rede da varanda tomando um ar, com Tom, seu seu fiel companheiro, ao seu lado. Os dois eram praticamente inseparáveis. Mas nas suas viagens nunca deixava de levar as suas calopsitas.

Ele sempre me convidava pra ir pra Guarapari (ES) e eu gostava muito de ir para lá por conta energia dele. Ele sempre animava todos e não ficava parado. Quando chegava lá, pelo menos um dia era de lei irmos para Meaípe comer bolinhos de aipim e aproveitar o mar e a calmaria. Íamos passear na orla à noite para ver o movimento, nas feirinhas.

Quando eu e meus primos éramos pequenos ele era sempre eleito o tio mais animado e não era pra menos, afinal ele nos levava para as melhores programações, como comer pizza e tomar sorvete. Era o tiozão que gostava de dar sempre algumas lembrancinhas para os sobrinhos, mesmo sem ser alguma data especial. Sempre que chegava lá, tinha umas coisas da Avon e ele aparecia com hidratante pra me dar. Minha outra prima gostava muito de brincar de maquiagem e ele sempre dava algum batom, ou algo do tipo. Gostava de apelidar as pessoas, minha mãe, por exemplo, era "Jesusinha", porque uma vez ela cortou o cabelo e ficou muito parecido com o de uma pintura de Jesus na igreja de Guarapari.

Era aquele torcedor fanático, ia a todos os jogos que podia do Goyta (apelido carinhoso do Goytacaz, time da cidade). Também torcia pelo Flamengo, e era o torcedor do “contra”, porque toda minha família torce pelo Botafogo. Recentemente, quando cheguei na sua casa e ele estava tomando água, percebi que era em um copo do Botafogo. A minha reação foi a de apenas soltar um: “ué?!”. O copo era dele mesmo: mesmo sendo flamenguista, não tinha problema em usar a blusa ou o copo do time rival. Sempre conversava com meus tios sobre futebol e dizíamos que ele era um flamenguista com alma botafoguense.

Sempre implicava com vovó, a sua sogra, e ela sempre caía na brincadeira e retrucava também. Era uma zorra. Nós dois tínhamos uma brincadeira que era só nossa. Era nosso plano: descobrir a senha do banco de vovó (a esposa dele que tem a senha) e depois gastar tudo com besteira. A minha tia quase morria quando a gente brincava que ia descobrir. Um dia ele me falou a senha dele, de Letra (RoFuDa). A partir daí, quando nos encontrávamos perto da minha tia, um dos dois sempre começava: "Vamos descobrir a rofuda de vovó?” E assim, começava a brincadeira.

Meu tio trabalhava com transporte, por último, ele tinha uma Kombi. Gostava de trocar de carro de vez em quando. Comprava moto e depois não tinha o que fazer com ela e vendia. Nessas negociações que ele fazia de venda, sempre ficava no prejuízo, mas acabava fazendo o tempo todo. Por falar em carro, ele me ajudou a comprar meu. Nós fomos em várias lojas até achar o modelo que comprei, ele sempre foi muito prestativo e parceiro. Nos finais de semana, me ligava de manhã cedo (mesmo sabendo que eu estava dormindo), só para falar que ele queria acordar todo mundo e que eu estava na frente de todos, porque meu nome começa com a letra A.

Meu tio amava aproveitar a vida e aproveitou da melhor forma possível. Sempre fez com que todos se sentissem bem ao seu lado e tinha um coração enorme.

Ele permanece vivo em nossos corações e é assim que sua cunhada Mônica, mãe da Taíssa, quer se lembrar dele: “Toninho, às vezes acho que estamos no meio de uma brincadeira e penso que você vai sair do esconderijo, entregar alguma coisa da Avon para Taíssa, vai trazer alguma coisa gostosa para a gente lanchar, vai dar uma passadinha rápida no aniversário de alguém de casa e vai voltar para a sua cama e dar uma descansada. É assim que vamos estar sempre lembrando de você. Com amor, com leveza. Siga o seu caminho e até logo!”.

Antônio nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ) e faleceu em Campos dos Goytacazes (RJ), aos 53 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha e pela esposa de Antônio, Ana Paula Ribeiro Smiderle e Eurídice Teresinha Sarmet Moreira Smiderle. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Emmanuelle Alves Santos e Victoria Vital, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 10 de junho de 2021.