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António Carlos Rodrigues

1957 - 2020

De hábitos simples e coração enorme, tinha uma risada incomparável e a voz marcante de um locutor de rádio.

Carlão foi guarda municipal, segurança de transporte de valores e motorista. Antes de falecer, trabalhava na portaria de um prédio comercial. Bem-humorado, para ele era uma distração recontar as histórias do passado com seu vozeirão característico.

Foi casado com Marinete Fernandes, com quem teve as filhas Tatiane, Cristiane e Shellby. Amava a família. Carinhoso e generoso, era adorado pelos netos, filhas, sobrinhos e afilhados. Até a irmã o tinha como um bom conselheiro e sempre ia "tomar uma cervejinha" e ouvir suas sábias palavras.

Seu programa de domingo favorito: às quatro da tarde sentar em frente à TV com seu chapéu e o rádio ligado para assistir ao jogo do seu time de coração, o Palmeiras. "Mas Tio Carlão também adorava ver os meninos do bairro jogando futebol e não dispensava por nada um frango assado ou uma costela, acompanhados de uma cervejinha, com direito ao seu doce favorito, o bolo de fubá cremoso da minha avó", diz a sobrinha Juliana.

Tinha muitos amigos de longa data e um desses lhe rendeu uma afilhada, Érika, considerada por ele como filha mais velha, pois foi batizada antes do nascimento de sua primogênita. A "filha emprestada" descreve Carlão como uma pessoa alegre e generosa, que amava a vida e gostava de pescaria e pagode.

A filha mais velha, Tatiane, foi buscá-lo para passar a quarentena em sua residência, mas Carlão, ou o Tio Careca da sobrinha Juliana, preferiu ficar na própria casa, onde guardava na sala recordações de ídolos Ayrton Senna e Pelé. Alegando estar resfriado, prometeu que, ao melhorar, iria para a casa da filha, o que acabou não acontecendo.

O que ficou para aqueles que o conheciam: a saudade de sua risada irreverente e seu carinho gostoso.

António nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Santo André (SP), aos 63 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha de António, Juliana Rodrigues de Andrade. Este tributo foi apurado por Marcelo Dettogni, editado por Denise Pereira, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 7 de junho de 2020.