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Antônio Estolano Andrade

1950 - 2020

Tinha inesquecíveis fraseados musicais, causos e um irrepreensível bom humor, cheio de cacoetes criativos.

Abaixo está um relato de Antonio Serpa do Amaral Filho sobre a convivência com seu grande amigo Antônio:

"O corpo a morte leva, já disse o cancioneiro popular. Porém, os recortes da memória, ficam para sempre na lembrança.

Com Antônio no comando da viola, curti memoráveis serenatas na cidade de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, onde moramos por um bom tempo. Porém, Estolano não era só um violeiro. Era, antes de tudo, um comunicador de boa cepa, um papo animado, cheio de bom humor, engraçado e, acima de tudo, muito simpático e cativante.

Apetrechado com uma meia dúzia de acordes dissonantes, ele passeava a cavaleiro pelos diversos naipes da Música Popular Brasileira, tendo-me como seu fã e aluno ao mesmo tempo. Guardo no baú das memórias seus fraseados musicais, seus causos e seu irrepreensível bom humor, cheio de cacoetes criativos.

Seu jeito de ser e suas cantorias se desfizeram na bruma da existência, ficando na gente, suspensas no ar, em uma sustentável bolha de sabão muito colorida. As imagens inapagáveis dos dias que tivemos entre nós, o homem, o músico, o artista e o amigo, fazendo soar seu violão e sua voz para o deleite dos ouvidos e corações da plateia.

E já que cruzou os umbrais da morte e decerto conheceu os mistérios do desconhecido, rogo sua bênção e desejo boa sorte na insondável jornada do além.

Restou para a gente o tilintar dos seus acordes brejeiros, sobrevoando a saudade, como um beija-flor.

O corpo a morte leva, a voz some na brisa (trecho da música Súplica, de João Nogueira).

Antônio nasceu em Porto Velho (RO) e faleceu em Porto Velho (RO), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo amigo de Antônio, Antonio Serpa do Amaral Filho . Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Marcela Matos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 11 de agosto de 2020.