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Antônio Gengo Neto

1953 - 2021

Apaixonado pela família, fazia questão de capturar os momentos felizes com as lentes da sua filmadora.

Antônio era formado em Administração Hospitalar e sempre foi um grande apaixonado pela área da saúde, participando de todas as licitações de grandes hospitais paulistas. O rapaz, que muitas vezes era comparado ao Fábio Júnior, começou a trabalhar em uma distribuidora de remédios e a empresa, que era fruto de um empreendimento dos primos, ficava ao lado da casa da mulher que, no futuro, se tornou sua esposa.

Os dois se conheceram no portão, mas foi a esposa de Antônio que deu o primeiro passo, pois ele não havia percebido o interesse dela. Quando, enfim, o casal se aproximou, o amor foi imediato e, em menos de dois anos, eles se casaram, tiveram sua filha, Mariana ― a menina dos olhos de Antônio ―, e viveram seu próprio "felizes para sempre" durante trinta e cinco anos.

Mariana e o pai compartilhavam um sentimento único, que somente um pai amado e uma filha tão querida poderiam sentir. Com personalidades muito parecidas, os dois amavam brincar de brigar como uma forma de descontração, adicionando a graça de pequenas implicâncias em sua doce rotina em família, sem nunca esquecer de demonstrar o afeto que tinham um pelo outro. Antônio sempre preparava o café da manhã para sua menina, com direito ao abacate que ela gostava, e fazia questão de dar carona para os lugares que ela precisava ir, e levá-la para o trabalho. Inclusive, o maio orgulho de Antônio era ver a filha trabalhando na UTI, seguindo os passos do pai que tanto admirava.

Mesmo após aposentado, ele continuou atuando na área da saúde e cuidado ao próximo: doava sangue e plaquetas ― atitude nobre que tinha desde jovem ―, trabalhava em casas de ajuda, prestava assistência às quatro irmãs e ajudava os sobrinhos, os pais da esposa e quem mais precisasse.

Tinha como missão espalhar bondade e zelo e não era incomum ele se colocar em segundo plano para prestar socorro a alguém que estivesse precisando de ajuda.

Quando tinha um tempo livre, gostava de estar com a família, fosse durante as refeições, assistindo televisão, viajando ou caminhando. Ele dirigia com muita habilidade e, às vezes, inventava de fazer uma visita à praia ou um passeio pelo centro da cidade, assim podia unir a alegria de estar com suas duas meninas ao prazer de pilotar o carro.

E quando o assunto era comida, Antônio tinha um apetite incomparável. Bom de garfo, ele comia de tudo, principalmente pão e queijo, alimentos pelos quais tinha um apreço especial. Mas não havia tempo ruim: pastel, sanduíche de linguiça, comida italiana... seu passatempo era saborear uma boa comida e, depois, aproveitar para dormir um pouco.

Ele também era apaixonado por jogar futebol, o que fazia desde a infância ao lado dos seis irmãos; hábito que manteve, inclusive, na vida adulta. Junto com o gosto pela bola, ele também nutria o amor pela música, que o levou a aprender a tocar violão e a se tornar um grande fã dos Beatles.

Antônio tinha muito gosto pelo mundo animal, amava cachorros, gatos e passarinhos, e ficava horas assistindo programas de televisão sobre o assunto. Certa vez, em uma viagem para a casa de sua irmã no interior, ele correu atrás de uma galinha e acabou caindo com o rosto no chão, porém com a galinha na mão.

Cada momento em família era registrado pela filmadora que Antônio tinha sempre à mão. Com a máquina, ele gravou as festas da filha no colégio e seus aniversários no salão de festas do prédio.

Presente em incontáveis momentos especiais ― desde as tardes de karaokê em família aos cuidados com as tartarugas ―, Antônio era um exemplo de pai, esposo, filho, irmão, tio e amigo. Ainda tinha vontades que gostaria de realizar, como conhecer a Europa, mas o grande tesouro da vida ele já tinha conquistado: o amor da sua família. Sua partida deixa imensas saudades e sua história torna-se uma inspiração para todos que tiveram o privilégio de o conhecer.

Antônio nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Antônio, Mariana Volante Gengo. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Camilla Campos Trovatti, revisado por Ana Macarini e moderado por Larissa Reis em 30 de junho de 2021.