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Antonio Guido de Morais

1947 - 2020

Seu coração botafoguense não cabia em seu peito. Sempre amoroso, bondoso, divertido, gostava de ajudar as pessoas e amava a vida.

Torcedor do Botafogo, sua presença no Estádio Nilton Santos era garantida, juntamente com os filhos Luciane e Douglas. "Seu coração botafoguense não cabia em seu peito. Sempre amoroso, bondoso, divertido, gostava de ajudar as pessoas e amava a vida”, conta a filha.

Guido, como era chamado por ela, levava uma vida tão saudável e ativa, que dizia que "passaria dos 100 anos". "Ele tinha sempre um abraço apertado com um beijo na testa para oferecer, fora as tiradas engraçadas e seus bordões, seguidos de uma boa gargalhada. Fazia amizade por onde passava”.

O cafezinho da tarde com suas irmãs era lei, como também era lei esperar sua esposa Fátima no ponto de ônibus todos os dias, "para ela não subir a rua sozinha". "Eles sempre foram muito companheiros, eternos namorados", descreve a filha.

Dentre suas paixões estava viajar. Luciane lembra sua felicidade em percorrer quase três mil quilômetros de carro, do Rio de Janeiro ao Piauí: “Amava viajar para a sua cidade natal, Parnaíba, junto com a família. A última viagem para lá foi em julho do ano passado, de carro. Como ele estava feliz!”.

Antonio Guido era um mensageiro da felicidade. “Nas festas em família todos comemoravam com alegria sua chegada. Não podia faltar música em sua casa, ouvia de Roberto Carlos a Guns'n'Roses, inclusive marcava presença no Rock in Rio para assistir à banda. Feliz daqueles que tiveram o privilégio de conviver com ele. Desconheço quem não gostasse dele”, diz a filha.

E, relembrando uma composição de Moacyr Franco que teve muitas gravações, ela encerra sua homenagem. “Meu pai tão querido, meu amigo. Termino com uma música que ele sempre cantava, de João Mineiro e Marciano: ‘Ainda ontem chorei de saudade...’”.

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Antonio Guido foi tão querido que inspirou uma carta-homenagem de Pedro Gabriel de Melo, que não o conheceu, e sim ao seu filho Douglas, como ele conta abaixo:

“Escrevo essa carta a um senhor que não cheguei a conhecer pessoalmente, mas vi em seu filho, meu grande amigo de viatura, o bom homem que ele foi em vida!

Seu Guido, gostaria de dizer que você foi um vitorioso nesse plano que chamamos de Terra. Talvez palavras me faltem nesse dia para tentar confortar o meu amigo de viatura, Douglas Anobom, seu filho.

Hoje seria o seu aniversário e sabemos o quanto essa distância abrupta dói no coração. Sua esposa, a dona Maria de Fátima, sua filha, irmãos e todos aqueles que tinham o senhor como exemplo e pilar de uma família inteira ainda tentam compreender!

Vejo, pelas declarações e fotografias diárias, o quanto era querido. Um homem íntegro, sempre com um sorriso no rosto e alegria no coração.

Seu filho realizou alguns sonhos seus, não é mesmo? Como no dia em que o senhor, botafoguense fanático, pisou no solo sagrado do Engenhão ou quando a família toda viajou de carro do Rio ao Piauí. Que aventura, não é mesmo?

Um dia, no trabalho, me colocaram como Herói da Guarda, uma singela homenagem que a Instituição presta aos servidores que atuam nesse momento de pandemia ou que se recuperaram dessa doença tão traiçoeira, mas, seu Antonio Guido de Morais, saiba que não somos heróis! Herói é seu filho, sua esposa, sua filha e o senhor! Vocês são os verdadeiros heróis dessa pandemia!

Deus em sua infinita complexidade, que não compreendemos, um dia nos mostrará o sentido de todas as coisas!

Um forte abraço!

Do seu amigo, Pedro Melo (Gabriel)".

Antonio nasceu em Parnaíba (PI) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha e pelo amigo de Antonio, Luciane Anobom Morais e Pedro Gabriel Silva de Melo. Este tributo foi apurado por Viviane França, editado por Rosimeire Seixas, revisado por Lícia Zanol e moderado por Rayane Urani em 19 de setembro de 2020.