1969 - 2021
Se de sua vida tivesse escrito um livro, suas histórias prenderiam a atenção até do leitor mais desatento.
Antonio era de uma família numerosa e teve sete irmãos: Plácido, Clécia, Expedito, Marília, Péricles, Albérico e Evandro. Desde pequeno, era traquino, esperto, demonstrava curiosidade e sede de saber sobre as coisas.
Sua mãe Maria Epifânia era provedora do lar, trabalhava nos Correios e o deixava com a irmã Clécia, que conta: "Quando ele nasceu, eu tinha onze anos. Então, eu cuidava dele durante os turnos da manhã e da noite para que minha mãe trabalhasse. Digo sempre que fiz curso de mãe logo cedo, pois fui responsável pelos cuidados de três irmãos". O elo criado entre Clécia e Antonio permaneceu por toda a vida, conforme ela declara: "Para mim, ele era como um filho e esteve presente em momentos importantes da minha vida."
Aos vinte anos, decidiu se tornar Frade Capuchinho e foi admitido num seminário. Depois de quase dez anos, quando faria os votos perpétuos, foi dispensado da Ordem com o argumento de que lhe faltava vocação. Então, ele retornou à Esplanada e fez Faculdade de Letras. Na sua formatura dedicou a conquista ao sobrinho Kleber, falecido alguns dias antes.
Uma vez formado, logo se tornou Professor de Língua Portuguesa e Literatura pelo Município. Durante cinco anos assumiu o cargo de Chefe da Biblioteca Pública de Esplanada, onde conheceu Almirane, uma colega de trabalho, que se tornou o amor da sua vida.
A relação entre os dois durou 11 anos e foi marcada por muito amor e companheirismo, até a partida dele. Dessa união com sua amada, Antonio recebeu como presentes os dois filhos dela, Ariely e Breno e, desde o começo do namoro, ele se tornou a referência paterna das crianças. Zeloso de todas as formas possíveis, tinha a palavra final quando o assunto era educação. Nesta configuração familiar, ele nutria também grande carinho pela sogra, Dona Everaldina.
Nos últimos anos, voltou novamente a lecionar as mesmas Disciplinas no Ensino Público sendo muito respeitado pelos colegas e alunos como um excelente professor. Para ele, educação era liberdade e com o seu coração altruísta, preocupava-se com seus alunos além dos muros da escola.
Extremamente conhecido e querido em sua cidade natal, sabia de todos os acontecimentos do Município de Esplanada. Atuante, questionador e muito inteligente, ia às reuniões semanais da Câmara de Vereadores para se inteirar sobre os assuntos em pauta. As vezes, era questionado pela família por que não se candidatava a vereador e ele dava como resposta apenas um sorriso...
Antonio parecia uma caixinha de histórias mirabolantes que tinha sempre uma novidade para contar. Era muito criativo e se não tivesse uma, inventava na hora, conforme se recorda Clécia: "Quando não tinha alguma coisa para contar, ele criava. Muita gente acreditava, porém depois ele acabava confessando que não era verdade, que tinha inventado. Nós, familiares, sempre falávamos que quando fosse algo sério, não acreditaríamos. Já aconteceu dele nos contar histórias tão absurdas, que acabávamos não acreditando, mas depois descobríamos que eram verdadeiras. A realidade é que nos divertíamos muito com esse jeito dele, que hoje nos faz tanta falta". Nas histórias que contava, trocava pontos finais por reticências e, assim, dava margem para que elas sempre tivessem continuidade.
Leitor assíduo, vivia com um livro nas mãos, e isso era mais um ponto comum com a irmã, que diz: "Certa vez, dei à ele uma Coleção dos Livros de Jorge Amado, que eu tinha, entretanto nunca li. Ele adorou. Vivia na tentativa de me explicar o sentido do enredo e todo o significado que havia nas entrelinhas daquelas páginas. Antes de seu falecimento, estava mergulhado em livros espíritas e sua leitura do momento era 'O Livro dos Espíritos'. Dizia que estava devorando os capítulos. Depois que ele se foi, para mim, fez todo o sentido o desejo dele em emergir seus conhecimentos sobre espiritualidade", rememora.
Adorava ver novelas antigas que reprisavam na televisão constantemente. Também era fã de Michael Jackson e torcedor do Vitória. Nunca dispensava nenhum dos pratos que Almirane fazia e nos momentos de lazer se reunia com a família para um bom churrasco com bastante cerveja, no qual invariavelmente chamava atenção ao contar suas "histórias".
Nessas ocasiões, tinha o hábito de nunca deixar uma música tocar inteira, sempre passava para a próxima dizendo que tinha enjoado. Brincalhão que só, fazia de tudo para pirraçar. No final, volta e meia, colocava Gretchen para tocar. Ele não sabia dançar, nós ríamos muito dele.
Em seu livro "Capitães de Areia", Jorge Amado diz que: "Os homens valentes têm uma estrela em lugar do coração". Assim foi Antonio, um homem que encarou a vida com bravura e obstinação.
Sua alegria emanava luz, brilho e, pela eternidade, haverá de reluzir!
Antonio nasceu em Esplanada (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 52 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela irmã de Antonio, Clécia Penalva Argôlo. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 21 de dezembro de 2021.