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Antônio Neves Marques

1956 - 2020

Sempre de bom humor, tinha uma risada do tipo Dick Vigarista.

Reginaldo, Laerte, Orminda, Celso, Eduardo, Carlos, Renato e Antônio. Ser o caçula de oito irmãos exige coragem. Afinal, como exercer a infância diante de tantos adultos? Como esperar paciência quando sete antecederam sua chegada? Por isso, apesar de muito amor, eram raras as demonstrações de afeto dos pais, seu Waldinar e dona Yollette. Não à toa, a lembrança mais forte da infância era de quando recebia, como prêmio, o colo do pai. Ali, Antônio podia ser a criança que de fato era.

No entanto, o dia a dia era feito de maturidade. Os irmãos eram adultos, jovens ou quase. O menino Antônio seguia atento às novidades daquela vida tão distante, tão alta, mas de tal maneira já tão presentes. E tinha um momento em que a idade não era relevante: a hora da música. Entre os LPs, Toninho e os irmãos se esqueciam da faixa etária, pois ela não importava. Importantes eram os lançamentos dos Beatles e dos Stones! A alegria dos Mutantes! A mocidade de Rod Stewart e os ouvidos sempre atentos às novas bandas que chegavam naquele amontoado de vidas. Ainda era uma criança, mas Antônio já havia descoberto seu primeiro amor: a música.

Mesmo estudando economia e construindo a carreira como bancário, Toninho também se apresentava como músico. Pudera! Foi um grande influenciador cultural na família: sobrinhos e filhos reconhecem a importância do tio Toninho como o responsável pela imersão ao universo musical de qualidade.

(É preciso um parágrafo dedicado aos sobrinhos: Ricardo, André, Adriana, Márcia, Paulo, Henrique, Patrícia, Simone, Guilherme, Carlinhos, Rita, Andrea, Waldinar, Eduardo Júnior, Ana Elisa, João Marcelo, Thereza de Lisieux, Louyse, Francisco Celso, Samuel, Ana Clara, Rafael, Flávia, Gabriel, Felipe, Sandra, Cinthia e Cláudia.)

Com a esposa Leda Mara, tiveram dois filhos, Antônio Vitor Barreto Marques e Rafael Barreto Marques. A família sempre se reunia nos dias de festas e Toninho estava sempre muito alegre e brincalhão, pronto para ouvir as novidades e conversar sobre música. Era muito próximo da idade dos sobrinhos mais velhos, por quem nutriu proximidade e afeto. “Sempre de bom humor, tio Toninho fazia piada com tudo e todos. Quando era pra passear, demorava séculos pra se arrumar e ajeitar os cabelos. A risada dele era tipo Dick Vigarista”, lembra Sandra, uma das sobrinhas.

Nas horas livres, Toninho se entregava ao que trazia felicidade: ouvir música, pegar uma praia e tomar uma cervejinha, acompanhado por um tira-gosto. Seu sonho era envelhecer com dignidade.

Se a música era a vida de Toninho, então hoje ele continua vivo nos discos que amava, os quais têm quem ame por ele. Toninho se fez imortal pelo gosto musical que inspirou a família. Como um legado, vive quando Pink Floyd, Michael Jackson e Tom Jobim preenchem a ausência do irmão, pai e tio Toninho. “Miss You”, dos Stones, passa a ser uma oração. O amém, na família, e o coro: “Lord, I miss you”.

Antônio nasceu em Parnaíba (PI) e faleceu em Teresina (PI), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de Antônio, Sandra Amaral. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Carolina Margiotte Grohmann, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 8 de março de 2021.