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Antônio Vieira da Almeida

1944 - 2020

Contar piada era a marca registrada de Gaguinho.

A infância apelidou Antônio de Gaguinho.

A ansiedade pela vida era traduzida na fala. Afinal, Gaguinho sabia: era alguém de idas. Pra ser, tinha que ir.
Assim, aos 12 anos deu adeus à terra que Lampião nunca ousou entrar. Assumiu o compromisso com a estrada e fez idas ao Paraná. Idas à Bahia. Idas a São Paulo. A estrada era sua casa. Não importava como: caminhão, ônibus, carro. Bastava ir. “Um dia, volto pra Frei Paulo”, prometia ao vento. Nunca voltou. Pois sabia: era alguém de idas. Voltar não era da sua estirpe.

Ciente da finitude, garantiu-se em oito: fez Erisvaldo, fez Erinaldo, fez Lia, fez Elizabete, fez Renan, fez Felipe, fez Fernanda e fez Rafaela. Formou um time de filhos para honrar seu legado. “A vida tem que ser vivida!”, dizia.

Era destemido, engraçado, humilde. Sobretudo: amava viver.

Os últimos conselhos à filha mais nova: “Seja feliz e não trabalhe tanto!”. Caso morresse, se sentia satisfeito com tudo que tinha conquistado. Pouco depois, foi ela também sua última companhia de ida. Aos 75 anos, Gaguinho cumpriu a viagem mais curta. Conhecia bem esse chamado: era mais uma ida sem volta. A última mensagem de áudio para Rafaela tem oito segundos: “Como está aí meu amorzinho, tudo bem? Pai tá morrendo de saudades de você!”.

Depois disso, Gaguinho foi. Cumpriu sua última ida. Ainda que, dessa vez, desejasse voltar.

Antônio nasceu Frei Paulo (SE) e faleceu Indaiatuba (SP), aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.

Jornalista desta história Carolina Margiotte Grohmann, em entrevista feita com Filha Rafaela Almeida, em 23 de maio de 2020.