Sobre o Inumeráveis

Aparecida Ribaben de Mira

1933 - 2020

Amorosa, foi mãe, tia, avó, bisavó e tataravó. No hospital de campanha, era "a bisa da UTI".

Apesar de miúda, trabalhou na roça de algodão, mandioca e café para ajudar a família, no interior de São Paulo. Chegou a assumir a carga de trabalho de seu pai, quando ele adoeceu.

Muito religiosa, devota de Nossa Senhora Aparecida, já debilitada por uma fratura em cada fêmur, fez questão de dispensar o andador para entrar no Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), em sua visita, em 2016.

Teve dois filhos, Valdir e Antônio. Valdir faleceu em 2017, por complicações de H1N1.

Vivia em Paulínia, com a irmã Maria Rita e com a sobrinha Juliani, que é técnica de enfermagem. Aparecida era 20 anos mais velha que a irmã e era chamada de "vó" pela sobrinha.

Quando Murilo, o filho de Juliani, nasceu, Aparecida ficou deslumbrada. Ela pôde curtir o "bisneto" de pertinho — brincava de carrinho e de guerra de travesseiros com o menino.

Era uma mulher muito ativa. Adorava costurar e, com a pandemia, passou a produzir máscaras com retalhos e distribuir para os vizinhos. Até começar a apresentar dificuldades de locomoção, participou de um grupo de idosos. Sempre gostou muito de água, de praia... Em 2019, vencendo sua resistência, Juliani e Maria Rita levaram-na a um parque de águas numa cidade vizinha. Ela ganhou um maiô azul para o passeio. Ao entrar na água, com a ajuda da neta, suspirou: "Não imaginei que eu iria me divertir tanto!"

Quando adoeceu, tentou sempre tranquilizar todos, mais preocupada com o bem-estar de sua família do que com o próprio. Teve oportunidade de se despedir da irmã, Maria Rita, no hospital de campanha, onde ambas ficaram internadas — e onde foi carinhosamente apelidada pelas enfermeiras de "bisa da UTI". Ao ser internada, levou escondido no bolso um terço. Foi sepultada com ele.

Aparecida faleceu no dia 5 de junho de 2020.

Aparecida nasceu em Limeira (SP) e faleceu em Campinas (SP), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Aparecida, Juliani Ribaben. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Flávia Tavares, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 17 de junho de 2020.