1947 - 2020
Quem o conheceu sabe que viver foi sinônimo de luta para alcançar os sonhos.
Sentado na cadeira de balanço, admirando o agito das árvores e a calmaria do lago: era esse cenário que Luizão, como gostavam de chamá-lo, escolhia para ficar pensando na vida. Todo fim de semana lá estava ele indo rumo à Praia de Camburi, litoral norte de São Paulo, em busca de descanso e de boas horas de pesca.
Quando não estava no sossego em sua amada casa em Camburi, se dedicava com zelo à empresa que construiu do zero na cidade de Cubatão, em São Paulo, da qual se orgulhava muito de ter posto de pé. E não foi só com a empresa que Luizon usou sua receita de sucesso, revelada por sua filha Ana Luiza: “ O meu pai era muito esforçado, sempre conquistou tudo sozinho e nos ensinou que estudar e trabalhar para conquistar nossas coisas era o que tínhamos que fazer, com honestidade e força!”
Foi esse o legado que Arcilino multiplicou entre aqueles que o rodearam. Aos cinco filhos que deixou, o amor e a disposição que o pai teve para com a vida foram evidentes em toda sua existência.
Na família, deixou uma marca registrada bem ao modo Luizão de ser: filhas e filhos com a inicial ‘A’, para combinar com o pai. E assim se deu: Ana Luiza Luizon, Adriano Luizon, Alessandra Luizon Santiago, Anna Beatriz Luizon e Armando Luizon Neto. Numeroso não só na figura de um pai que soube dividir seu amor com esse quinteto, mas também na de um companheiro em diferentes momentos da vida para Solange, Cecília e Antônia; foi, porém, para Ednalva que Arcilino deixou um espaço ausente em casa.
Dono de um jeito próprio de demonstrar seus sentimentos, apesar de não saber usar bem as palavras, sabia evidenciar seu amor de outras maneiras. Toda vez que ele ligava para Ana Luiza e falava “não liga mais pro seu pai não, filha?!”, ela já sabia que ele estava com saudades.
Dividido entre querer o melhor para quem amava e, ao mesmo tempo, querer mantê-los por perto; foi assim, com o peito apertado, que Luizão ficou quando Ana Luiza foi passar uma temporada bem distante, morando nos Estados Unidos. Ela relembra com carinho a preocupação do pai com seu bem-estar, sempre entrando em contato com a filha para se assegurar de que tudo corria bem. Apesar de querer que ela alcançasse todas as oportunidades possíveis em sua vida, a felicidade com o retorno da filha foi indescritível. E não era pra menos: um dos traços que mais o definia era estar sempre rodeado da família e amigos.
Ativo e muito disposto, era ele quem animava e convocava as pessoas para fazer alguma coisa. Não dispensava um cochilo depois do almoço e, mesmo com as diabetes, ninguém o segurava quando o assunto era comer um docinho após a refeição.
É relembrando desse homem de tantas virtudes, manias engraçadas e jeito cativante que Ana Luiza traduz o carinho pelo pai: “Quando eu era criança, ele andava pela casa me chamando: ‘bebelzinha do pai’, e eu ia para o colo dele. São tantas as histórias! Ele gostaria de ser lembrado como um grande e amado pai e esposo. Quando falei com ele na última chamada de vídeo antes de ser entubado, ele me disse: “final de semana eu tô em casa”, e eu afirmei que com certeza estaria. Ele lutou muito - até o fim - pois queria viver e amava a vida! Tenho orgulho, admiração e amor incondicional, foi um pai incrível e especial. Sempre estará vivo comigo, não vejo a hora de nos encontrarmos novamente. Te amo demais, pai.”
Segue agora uma carta da neta Natália Luizon ao seu querido avô:
“Ah, vô! Tua lembrança nas minhas memórias, das quais você fez parte nos meus primeiros 12 anos, foram inesquecíveis. Eu penso como eu e minha irmã tivemos sorte em ter um avô tão único e especial como você. No dia 8 de julho de 2020, a Covid te levou para longe de nós. Meu avô, sua partida seria um adeus? Um até mais? São perguntas que não sei responder, mas tenho certeza que um dia irei revê-lo com seu jeito sério, vaidoso, tão orgulhoso de si e confiante, sempre nos ensinando que o melhor caminho na vida é lutar pelo que se quer e nunca desistir.
Foi uma dádiva da vida conviver com você e as lembranças vão ficar para sempre em minha memória, porque eu sei que as memórias da infância são as que marcam para sempre a vida. Obrigada por tudo, meu avô!”
Arcilino nasceu em Ibirá (SP) e faleceu em Santos (SP), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Arcilino, Ana Luiza Luizon. Este tributo foi apurado por Júllia Cássia, editado por Júllia Cássia, revisado por Allanis Carolina e moderado por Rayane Urani em 8 de novembro de 2020.