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Arézio Lança Silvio

1960 - 2021

Com sua linguagem própria demonstrava amor e ensinava amar.

Arézio era conhecido como Gué por ter sido, ao longo de sua vida, constantemente um guerreiro. Em uma paquera tradicional de tempos antigos, na praça da cidade, conheceu Aparecida, com quem viveu uma linda história de amor e cumplicidade que durou trinta e nove anos. Juntos eram um só.

Filho de seu Gilberto e de dona Luzia, Arézio teve sete irmãos, companheiros de muitas travessuras na infância. Apesar da distância por morarem em cidades diferentes, sempre teve uma boa relação com todos eles.

Foi o pai amoroso, cuidadoso e atencioso de Ana Paula, Daniela e Daniel. Gué nunca economizou demonstrações de afeto e carinho aos filhos. Fazia de tudo por eles e tinha um orgulho enorme de todos. A filha Daniela conta que, da infância, só guarda boas recordações. Como o dia em que abriu o porta-malas do carro e o pai havia colocado um par de patins de presente surpresa para ela, que era seu grande desejo, e que ele havia comprado com muito esforço.

Além disso recorda que, quando crianças, qualquer problema que houvesse na escola lá estava o pai para defendê-los. Em uma ocasião em que ela e Ana Paula sofreram um acidente de carro, o pai, que estava em outro veículo, instintivamente veio em socorro das filhas, para levá-las ao hospital.

Os filhos lhe deram netos, que foram sua grande paixão. Enzo, Ryan, Zayon, Hector, Henrique e Bettina que tiveram a sorte de conviver com esse avô dedicado, zeloso, animado e companheiro de muitas farras. Bernardo e Ravi, que chegaram após a partida de Gué, ouvirão dos demais as histórias desse super avô.

Aos 44 anos, sofreu um aneurisma cerebral. Ao longo dos anos foram mais de 20 cirurgias. Com muito esforço assim como o apoio e o amor de sua família, reaprendeu a andar, a comer e a ter independência. A união de Aparecida e Gué se fortaleceu ainda mais. A fala nunca foi totalmente recuperada, mas com sua linguagem própria nunca deixou de demonstrar o amor pela família, que transparecia em seu olhar. Também nunca deixou de ser expressivo e comunicativo com seus amigos. A linguagem dele, diz a filha Daniela, era a mais linda que já tinham visto. Quando recordam de todo o processo difícil que o pai passou, os filhos se referem como: “Nosso milagre”.

Soldador de profissão, gostava muito do ofício. Tinha planos de continuar trabalhando mesmo após a aposentadoria. No trabalho, onde era conhecido como “sapinho” o soldador, tinha fama de justiceiro. Incessantemente, quando se deparava com alguma injustiça ou com algo errado, saía em defesa dos colegas, mesmo que isso às vezes o prejudicasse.

Estar com a família era sua grande paixão e o churrasco nos almoços de domingo uma tradição que nunca foi abandonada. Gué era a alegria da família, nunca havia tristeza perto dele. Mesmo não pilotando mais a churrasqueira, que ficou a cargo do marido da Daniela, ele fazia questão de dar seus pitacos, fazendo gestos de virar o espetinho no momento certo, enquanto degustava sua cerveja sem álcool.

Com a esposa, frequentava as reuniões das Testemunhas de Jeová. Quando estava pronto para sair, chamava na janela a filha Daniela, que morava próxima, para mostrar como estava bonito para a ocasião.

Gostava muito de passear, principalmente ir a pesqueiros e de ouvir música. Daniela ainda recorda do pai cantando o clássico “Franguinho na Panela”. Todavia seu ritual favorito, nos últimos anos, era sentar-se à sombra de sua árvore preferida. Ficava lá por horas. No local onde o pai sentava, hoje um lindo vaso está colocado para tentar preencher com um pouco de alegria o imenso espaço que Gué deixou.

Arézio nasceu em Pradópolis (SP) e faleceu em Bebedouro (SP), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Arézio, Daniela Lança Villas Boas. Este tributo foi apurado por Peter de Souza, editado por Marília Ohlson, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 11 de fevereiro de 2022.