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Aristarco Oliveira da Silva

1982 - 2020

Com alto-astral e sorriso aberto, pastor Ari sempre oferecia apoio, acolhimento e uma palavra amiga.

O caçula de dona Graça teve uma infância difícil marcada pela ausência do pai. Ainda bem jovem assumiu a responsabilidade de trabalhar com a mãe como camelô e, aos 14 anos, foi pai pela primeira vez. A mãe sempre foi muito trabalhadora e, segundo o sobrinho Lukas, "nunca deixou a peteca cair".

O relacionamento com Elizier e Raquel, seus dois irmãos, era ótimo. Era afetuoso e preocupado com o bem-estar de cada um. Raquel foi mãe de seu primeiro sobrinho, a quem ele chamava carinhosamente de Lukinhas. E foi Lukinhas que fez questão de homenagear o tio com este tributo.

Conhecido como pastor Ari, de sua boca saíam as palavras certas, nos momentos mais difíceis. A adoração a Deus, que era feita nos cultos e reuniões promovidas por ele, contavam sempre com uma mesa farta ─ aquele era o momento de partilhar histórias e de comer bem.

Seus maiores valores eram a força para trabalhar e o amor infinito pela família, pelos amigos e irmãos na fé. Nunca foi dependente de ninguém além de Deus. Era amado por muitos e sua casa estava constantemente cheia de pessoas que buscavam no pastor Ari apoio, acolhimento e uma palavra amiga.

Ele cozinhava como ninguém. Era um mestre na cozinha e tudo que inventava ou se propunha a fazer ficava uma delícia. Ari morava em Roraima, mas sempre que podia estava junto à família em Manaus. O preparo dos quitutes para o café da manhã e os almoços eram por conta dele, mas Ari nunca recusava a comidinha de dona Graça.

"Ele amava fazer salgados de todos os tipos. Com ele aprendi a fazer a lasanha mais maravilhosa desse mundo!", revela Lukas orgulhoso e relembra: "Ele nutria um amor especial também pelos cães e gatos, tivemos inúmeros bichinhos em casa e isso era maravilhoso; trabalhamos juntos no centro, vendíamos salgados e ele me mostrou tudo da cidade. Nenhum trabalho se tornava cansativo com ele, porque os sorrisos e piadas eram certos!"

Lukas conta que nunca viu o tio triste e que, mesmo em momentos de aflição, invariavelmente estava com um sorriso no rosto. "O verbo desistir nunca fez parte do seu vocabulário. Lutar e lutar para vencer: era o que ele sempre fazia", revela o sobrinho.

Para a família, apesar de não ter deixado bens materiais, o legado de Ari foi muito maior: "ele deixou muito mais, deixou tudo de bom que fez na vida de pessoas e mais pessoas... ele salvou vidas do suicídio, ajudou pessoas que estavam necessitadas e ainda deixou marcado seu abraço forte de urso, sua gargalhada alta e espalhafatosa, suas piadas, brincadeiras e muitos bons sentimentos", afirma Lukas.

Seu maior sonho era cursar a faculdade de Direito e deixar sua família com uma casa terminada. Embora tenha partido precocemente, ainda com muitos sonhos por realizar e coisas para viver, aproveitou muito bem a vida. "O sofrimento acabou e hoje ele está livre e descansando em paz. Aqui, apesar da imensa saudade, estamos felizes pela oportunidade que nos foi dada de conviver com uma pessoa tão maravilhosa e especial", diz o sobrinho.

Lukas imagina a alegria do tio se pudesse conhecer pessoalmente os netos Agatha Cecília e Kaleb (o menino teve o nome escolhido por ele num pedido especial feito à filha, caso ela tivesse um menino). "Sua alegria se faz real com isso, mesmo que seja em outro plano", reflete Lukas, para quem o tio poderia ser definido em apenas duas palavras: amor e acolhimento. E o sobrinho conclui: "O legado que deixou foi algo imenso, infinito e inesquecível. Obrigado por tudo, tio! Você foi luz e será eternamente luz!"

Aristarco nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Boa Vista (RR), aos 38 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo sobrinho de Aristarco, Lukas Taffarel Oliveira da Silva. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Rayane Urani em 28 de março de 2021.