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Arlene dos Santos Vieira

1954 - 2021

Dona de uma inesquecível risada e linda voz, que cantava louvores graciosamente.

Arlene cresceu em uma família grande, cercada por oito irmãos. Gostava de contar para a filha, Zuleika, sobre sua infância nesse lar simples, porém muito feliz e amoroso.

Desde muito nova trabalhou, em sua cidade natal, em diversos lugares, como um jornal, loja e outros. A filha lembra de a mãe contar de seu trajeto de volta do trabalho à casa: "Uma viagem do centro do Rio de Janeiro até o bairro de Bangu, onde morava". E ali, Zuleika já percebeu a guerreira que tinha ao seu lado.

Posteriormente, Arlene mudou-se para o Espírito Santo e trabalhou na Universidade Federal do Espírito Santo, onde se aposentou. Era notável seu amor pelo trabalho na UFES e o contato com os alunos e professores. Tanto que era recíproco e reconhecido o seu apreço: Arlene foi muitas vezes escolhida pelos formandos como funcionária homenageada.

"Não poderia ser diferente. Minha mãe era uma pessoa muito especial e de bom coração. O casamento dela e do meu pai não deu certo, mas permaneceram amigos. Penso que tenha sido para mantê-lo próximo a mim", observa a filha com doçura.

Arlene criou a filha praticamente sozinha e no Espírito Santo não havia familiares. Mais uma razão para Zuleika ver a guerreira que sua amada mãe sempre foi. Além de alguém que adorava ajudar a todos. Ainda que não possuísse muito, dava seu jeito de dividir em várias instituições. Entre os auxílios, eram beneficiados o Instituto Braille e orfanatos; mas quando alguém batia à sua porta, não saía de mãos vazias.

Um exemplo de bondade, Arlene tinha algo diferente. Um brilho ou, talvez, a sua imensa fé, que a faziam ser amada por muitos. A sua risada era linda e o seu coração mais ainda.

Na cozinha, tudo que fazia era muito bom: feijoada, carne assada, o peroá então, a filha lembra do sabor! Além disso sua farofinha era muito elogiada; quem provava dava nota dez.

"Minha mãe me ensinou muito com sua força e amor. Se um dia eu tiver filhos, só com muito esforço para ser ao menos um pouco do que ela representa em minha vida. Não será uma tarefa fácil." Segundo Zuleika, sua mãe também amava muito os animais. "Tivemos cachorro, coelho, passarinho e por último um gato, que era um grude com ela."

Arlene era fã dos Beatles em sua adolescência e em adulta encantou-se por Coldplay. A filha tinha o sonho de levá-la a Inglaterra, para conhecer o local de origem das bandas. Mas além das canções de suas bandas preferidas, Zuleika conta que era lindo o som da voz de sua mãe cantando louvores. Jesus era muito importante para Arlene e ela amava os louvores da Maranata.

Sempre otimista, quando algo dava errado, costumava dizer para a filha "está na eternidade, bola pra frente". Tipo de pessoa que faz o mundo ainda ser um bom lugar para se viver, como define Zuleika; ter a mãe ao seu lado lhe trazia esperança de que pessoas boas de coração ainda existiam, e que é possível fazer o certo e seguir pelo bom caminho.

Arlene nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Vitória (ES), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Arlene, Zuleika Maria dos Santos Vieira. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Denise Pereira, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 31 de maio de 2022.