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Arli das Neves Júnior

1973 - 2020

Autodidata, pesquisava e buscava compreender o que não sabia para ser melhor no trabalho e na vida.

Ele fez da vida uma grande e divertida aventura, conhecendo inúmeras pessoas, muitos lugares e diversas culturas. Aproveitou cada oportunidade de viver um momento feliz. Os desafios que enfrentou, soube transformar em superação, com a alma intensa, apaixonada e decidida de quem nunca incorporou ao seu vocabulário a palavra “impossível”.

Amava a mãe acima de qualquer coisa nesse mundo, e para ela tornou-se um alicerce ainda na adolescência, após o falecimento do pai. Os dois possuíam um vínculo indissociável do mais puro amor, capaz de encher os olhos de quem convivia com eles. E por ser o filho mais velho, tornou-se um referencial para os três irmãos mais novos, que viam nele a figura paterna.

Conheceu Sandra, o amor de sua vida, durante uma viagem de verão à praia de Navegantes, em Santa Catarina. Os dois tinham parentes em comum e as famílias já se conheciam. Logo se apaixonaram intensamente e viveram uma relação que foi motivo de inspiração para a única filha do casal, Sabrina: "Almas gêmeas realmente existem e meus pais, com certeza, eram assim. Nossa família era o mundo para o meu pai. Nós três éramos invencíveis juntos".

Arli era extremamente inteligente. Encontrava um jeito para qualquer coisa, das mais simples às mais complexas. "Entre as lembranças de infância que carrego comigo, está a de quando ele me auxiliava nos trabalhos escolares. Com a sua engenhosidade, certa vez, construiu um robô para me ajudar em um projeto", recorda a filha Sabrina.

Ao longo de sua carreira profissional, Arli ministrou muitos cursos técnicos, que lhe permitiram viajar bastante e renderam a oportunidade de conhecer todo o Brasil. Foi em um de seus trabalhos, quando assessorava uma empresa, que recebeu o apelido de Jotta, pelo qual ficou mais conhecido.

Engenheiro mecatrônico, realizou o sonho de ter sua própria empresa, que ficava no terreno de sua casa. Ele respirava trabalho e não tinha horário para começar e muito menos para parar com seus projetos. Por ter muita insônia, às vezes, passava a madrugada toda trabalhando sem nem ao menos perceber. Dedicava-se de corpo e alma às suas funções e era extraordinário no que fazia.

Arli tinha a curiosa mania de congelar as garrafas de água e depois quebrar o gelo com um martelinho. "Em nossa casa, temos o costume de beber água supergelada. Então, todas as garrafinhas vão para o congelador. Por isso, toda noite, quando ia tomar água, ele quebrava o gelo, que ficava mastigando logo depois", conta Sabrina.

Muito alto-astral, Arli soube aproveitar e levar a vida como ninguém. Conquistava tudo e todos só com seu sorriso e seu jeito de brincar e conversar: amava pegar no pé dos outros, fazer piadas e contar histórias de situações que muitas vezes nem tinham acontecido. Não havia quem não gostasse dele. Às vezes, perdia um pouco a paciência, mas em poucos minutos já estava gargalhando.

Amava viajar, contemplar o mar e sair para comer e conhecer lugares diferentes. Por vezes, pegava o carro e saía sem destino. Entretanto, a felicidade dele era estar em seu lar, com sua família. Passava madrugadas ao lado da filha assistindo a séries e filmes, geralmente de ação ou investigação criminal — seus preferidos.

Sem dúvida, o lar era o seu refúgio. "Eu sempre fui ligada ao meu pai. Quando nasci, ele me pegou no colo e eu logo abri um sorriso. Todos os momentos que passei com ele foram marcantes, mas o que nunca vou esquecer, é das madrugadas que passávamos acordados assistindo a filmes e conversando sobre a vida. Ele me contava as coisas que fazia, me dava conselhos e também desabafava comigo. E eu, com ele. A ligação que temos e tivemos, não tem explicação, é algo único, algo nosso. Durante os vinte e quatro anos em que vivi com meu pai, todos os momentos foram memoráveis. Viver com ele era uma mistura de divertimento e aprendizado", recorda Sabrina.

Viveu, da melhor maneira possível, o aqui e o agora. Cada segundo foi precioso em sua jornada. Sempre fez o que gostava e só se importava com que o que tinha valor: as lembranças dos momentos bons que viveu, com as pessoas que verdadeiramente amou. Dizia que a música "Somewhere Over The Rainbow", de Israel Kamakawiwo'ole, era a canção dele. Talvez porque, durante a vida, sempre soube onde se encontrava o pote de ouro além do arco-íris: estava em cada pessoa que ele tocou com sua intensidade, seu amor.

Arli permanece intacto, inefável e eterno no coração e na memória dos que tiveram o privilégio de com ele conviver.

Arli nasceu em Santarém (PA) e faleceu em Balneário Camboriú (SC), aos 47 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha e pela esposa de Arli, Sabrina Karina das Neves e Sandra Patricia Buse das Neves. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 17 de janeiro de 2022.