1948 - 2020
Dona de um sorriso encantador e de uma saborosa receita de bolo de cenoura. Era a alegria das netas.
Áurea foi auxiliar de enfermagem, mas a ocupação que mais lhe dava prazer era estar com as netas Mariana e Júlia. Aliás, ser avó e cuidar da família era algo que ela mais admirava. A relação com a família era de pura harmonia: suas férias eram sempre na cidade de Viçosa, em Minas Gerais, para visitar seus 11 irmãos mais novos.
Aos 40, voltou a estudar. Terminou o ensino fundamental e médio e fez o curso técnico de Enfermagem. Passou em um concurso público na cidade de São Paulo, onde trabalhava como auxiliar de enfermagem. Era uma mulher forte. Não admitia moleza no trabalho. Ela trabalhou durante vinte anos no Posto de Saúde Vila Constância, na zona sul paulistana, e não faltou um só dia. Aposentada, fazia pilates, caminhada, tinha a alimentação saudável e cuidava da saúde como ninguém.
Amava cozinhar. Fazia um bolo de cenoura delicioso e dizia que cozinhar era uma alquimia. Também gostava muito de assistir aos jogos de futebol. Assistia aos campeonatos da Europa e a Copa Libertadores da América. Passou a torcer para o Santos, embora tenha sido palmeirense quase a vida toda. Adorava uma festa! Foi na formatura de quase todos os sobrinhos em Viçosa e em São Paulo.
Áurea era a grande incentivadora da filha Andrea. Certa vez, em uma festinha infantil, as meninas não queriam brincar com Andrea, dizendo que ela era "pretinha". Ela saiu triste e chorando, e a mãe, ao ver a filha assim, disse para ela voltar e impor sua vontade de brincar. Desde então, Andrea nunca mais se sentiu desprezada pela cor de sua pele. Tornou-se professora, sempre ouvindo os conselhos da mãe que dizia que, para ser feliz era preciso estudar para se libertar.
Tinha um sonho de conhecer a Bahia, especialmente Salvador, mas a luta contra um câncer no sangue adiou os planos. Depois de oito anos e 11 sessões de quimioterapia, estava curada. Porém, teve uma trombose e adiou mais uma vez seu sonho, que não chegou a se concretizar.
Apaixonada pelas netas, gostaria de vê-las formadas. Júlia dizia para a avó que queria ser médica veterinária e Mariana, engenheira. Áurea dormia de mãos dadas com a neta Júlia que, todos os dias antes de dormir, vai até a janela, olha para o céu e deseja boa noite para a vovó tão amada.
Futebol também era uma de suas paixões, fez muitos gols de placa, agora chegou a hora de tirar o time de campo. Mas o jogo da vida continua.
Áurea nasceu em Viçosa (MG) e faleceu em São Paulo (SP), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Áurea, Andrea Regina Gomes Pereira. Este texto foi apurado e escrito por Gabriel Rodrigues, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 13 de novembro de 2020.