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Benedito José de Souza

1959 - 2020

Seus olhos brilhavam quando era servido peixe no almoço, e quando estava no mar para pescar e nadar.

Seu apelido era "Dito" ou "Ditão das Gatas", como ele próprio costumava dizer. Sempre brincalhão, tinha uma risada contagiante que provocava o riso nas outras pessoas. Até mesmo quem eventualmente estivesse triste, mudava de humor, passando a sorrir, diante da maneira peculiar que ele tinha de gargalhar.

A alegria e o otimismo eram a sua "marca registrada". Buscava ver sempre o lado bom dos acontecimentos, mantendo a calma em situações difíceis. Relacionava-se muito bem com todos; era muito amigável, generoso, prestativo e trabalhador. Nas horas livres, gostava de ler a Bíblia, pescar em alto-mar, assistir aos jogos do Palmeiras e beber "uma geladinha". Empreendeu grandes mudanças em sua vida, ao colocar em prática preceitos aprendidos em suas leituras e estudos da Escritura Sagrada.

Suas paixões eram seus filhos: Natália, Daniel, Ezequiel e a sua amada esposa Conceição, que conheceu quando ela contava 17 anos. Encantou-se pela moça na primeira vez que a viu. Casaram-se com 19 anos e, desde então, viveram uma linda relação que durou quarenta anos. Venceram desafios e, sempre juntos, perseveraram e prosperaram nas tribulações da vida. Benedito foi um avô apaixonado por seus netos: Luiz Davi, Kauan Matheus e Emanuelly.

No ano de 1994 comprou um Corcel II. Seu apego era evidente no zelo e na maneira pela qual escolheu personificar o carro: batizou-o de "Pois é". Locomovia-se para todos os lugares com o veículo, usando-o sobretudo para trabalhar, por ser um automóvel bem espaçoso. Jamais esteve em seus planos vendê-lo, nem mesmo quando a sua esposa desejou comprar um outro carro. Todas as manhãs, Dito tinha uma mania - terminava de ler um capítulo da Bíblia, pegava a chave de seu Corcel II e dava partida na ignição como forma de prevenir defeitos e manter o bom funcionamento. Esse automóvel era a sua relíquia e nele estava escrita a frase: “Deus é joia, o resto é bijuteria”.

Palmeirense apaixonado, não perdia um jogo do Verdão. Quando o time fazia um gol, ele gritava todo alegre para a vizinhança inteira escutar. Benedito apreciava os filmes de ação, mas também amava assistir novelas. Como um noveleiro inveterado, assistia a todas em sequência. Gostava em especial do personagem Candinho, da novela “Êta, Mundo Bom!”; alegrava-se com as pitadas de humor contidas na trama.

Amava a pescaria em alto-mar. Na maioria das vezes, ele ia acompanhado de amigos e ficavam até três dias pescando. Ele sempre costumava contar sobre a ocasião em que seus amigos tomaram um remédio para enjoo, por causa do balanço do mar, sentiram sono e foram dormir; ele, contudo, decidiu permanecer ali pescando, sem se importar com o mar agitado "eu vim aqui para pescar e não vou dormir", dizia a si próprio. Terminou a empreitada satisfeito com os bons resultados que obtivera; tudo graças ao seu espírito positivo e à sua resiliência.

Alguns momentos específicos de carinho e ternura ficarão na memória de sua filha Natália: “Lembro-me com carinho de meu pai muito amoroso e lutando incansável para nos dar o sustento. A relação de pai e filhos sempre foi ótima. Tínhamos muito amor por nosso paizinho e ele por nós. Ele e todos nós amávamos ir para a casa de meu avô - que infelizmente também faleceu vítima da Covid-19", lamenta Natália. Era na casa do avô que a família fazia um churrasquinho e almoçava toda reunida. Benedito bebia a cervejinha dele e, após o almoço, dava aquela "dormidinha", que se estendia da tarde até a noitinha. No final do dia, todos voltavam para casa no seu amado Corcel II.

"Na primeira vez que fui ao parque de diversões estava acompanhada de meus pais, e meu pai foi o único a subir comigo na roda gigante. Ele me acompanhou, mesmo sentido medo da altura do brinquedo. Achei incrível, porque com seu gesto, ele me passou tranquilidade e confiança. Meu pai fez aquele dia ser inesquecível e muito alegre!", relembra a filha.

"Outro dia memorável foi o dia da minha formatura. Quando desci do palco com o diploma em mãos, pude ver em seu rosto o sorriso de aprovação e orgulho.”

Está escrito em Apocalipse 21:4 a frase da Bíblia que meu pai mais gostava: Deus enxugará dos seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem haverá mais tristeza, nem choro, nem dor. As coisas anteriores já passaram.

Benedito nasceu em Ouro Fino (MG) e faleceu em Americana (SP), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Benedito, Natalia de Souza. Este tributo foi apurado por Rafaela Teodoro Alves, editado por Ricardo Henrique Ferreira, revisado por Neuclenia Ferreira e Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 5 de novembro de 2021.