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Benedito Tadeu Cordeiro dos Santos

1956 - 2020

Mostrou as obras de sua fé ao cuidar de si e de quem carecia.

Em pouco mais de seis décadas vividas, Benedito testemunhou muitas vitórias. A começar pelo triunfo pessoal com a superação da dependência química, um capítulo iniciado em sua juventude, que ficou para trás à medida que sua fé e o amor à família se tornaram maiores que o vício. Desejoso de que outros também pudessem desfrutar a plenitude de uma vida longe da dependência, participava ativamente na recuperação de pessoas em situação de rua. Com tato, dividia o que havia vivenciado por meio de uma conversa altruísta, e encaminhava a clínicas de reabilitação quem demonstrasse interesse.

Ele também alimentava essas pessoas, iniciativa que começou após sua mudança para o litoral, quando se aposentou. Acompanhado de sua esposa e parceira de vida ao longo de 37 anos, Solange Gonzalez, manteve com muita alegria esse compromisso de preparar marmitas, pois acreditava que essa ação ia muito além do alimento.

Durante o processo de reabilitação de Bene, como era chamado, a conduta de pai exemplar, atencioso e carinhoso não foi afetada. Aline, Allan e Lays são os frutos que aqui deixou, e que darão continuidade ao exemplo de compaixão deixado pelo pai. “Ele sempre disse: ‘Balada e bebidas sempre vão existir, mas a sua vida vai passar. Corre atrás do seu progresso’”, conta Lays, relembrando um dos conselhos deixados pelo pai.

Na memória da família, residem imagens dos almoços de domingo com todos à mesa, envolvidos em conversas, orações e muita união. A vontade de Bene era essa, que permanecessem vivas as lembranças cujo valor não se precifica. “Sentados no imóvel ainda vazio, comemoramos a conquista de comprar uma casa. Ele reuniu filhos e esposa para dizer que a herança que queria deixar não seria material, mas sim amor, respeito, união, fé e o bom caminho”, relata a filha Lays.

Era também conhecido por Ditão – outro jeito de se referir ao homem espontâneo, comunicador, brincalhão e amigável que conservava dentro de si. Muito musical, estava sempre ouvindo Michael Jackson, sons do gênero R&B e louvores - um de seus preferidos era "Eu escolho Deus”, do cantor Thalles Roberto.

Aos ofícios que exerceu ao longo da vida somam-se os de auditor, manobrista e inspetor de qualidade. Destes ele obteve dispensa, mas do trabalho que considerava o mais importante sequer pensou em um dia se aposentar. Sua função como obreiro o alegrava; deixava evidente sua gratidão em realizar esse trabalho de fé pelos testemunhos que compartilhava.

Benedito deixou sementes por onde passou, que germinaram no coração de muitos. Será o eterno semeador de boas palavras e ações.

Benedito nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Benedito, Lays Gonzalez. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 11 de julho de 2021.