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Braulino de Oliveira Gomes

1932 - 2020

Com suor e tijolos, deixou um belo legado histórico. Mas foi com histórias e amor, que se eternizou.

Seu Braulino era um homem honesto e honrado, que criou 12 filhos com o fio do seu serrote e a força do seu martelo. Trabalhando na construção civil, como carpinteiro e mestre de obras, formou com sua esposa uma família bem grande. Além dos filhos, mais tarde vieram 28 netos e 20 bisnetos.

Um de seus maiores legados foi ter participado da construção do Teatro das Bacabeiras, um dos maiores símbolos da capital amapaense.

Como bom merecedor de um descanso, chegou a hora de se aposentar. Escolheu uma vida tranquila e saudável: comprou um sítio e lá viveu boa parte de sua vida. Criava galinhas, patos e porcos. Cultivava uma agricultura variada, como: mandioca, banana, pupunha, cana-de-açúcar, cupuaçu e várias frutas nativas da região.

Foi apaixonado pela sua esposa, Maria de Nazaré. E foi tão feliz, que depois de ficar viúvo, em 2012; apesar da saudade, vivia em busca de uma nova companheira. Seu Braulino vivia dizendo: "Meu filho, me arranja uma mulher" e todos achavam graça. Até quando internado, já com o vírus, ainda repetia seu bordão.

Aos 88 anos, não tomava remédios para nada e gozava de boa saúde. Seu único problema era no joelho. Uma artrose, que limitava sua locomoção e o fazia andar com a ajuda de um andador. Por isso, só saía de casa acompanhado: os filhos o levavam para uma voltinha, para passar o dia na casa deles, para algum passeio ou mesmo para ir à feira.

Seu Braulino era divertido e seu gosto musical tinha um estilo romântico, já que seus preferidos eram Roberto Carlos e Fábio Júnior. Filmes ele não curtia muito, mas novelas... ô homem noveleiro! E com um detalhe: quando via uma vilã, jogava o chinelo na TV!

Era engraçado, mas também tinha um defeito... era impaciente. Quando não gostava de alguma coisa, logo dizia: "Ah porra!" Num instante sabiam que ele se chateara e paravam a brincadeira.

Às vezes, aparentava certa marra, mas logo entregava seu coração enorme e um olhar tão carinhoso... "Assim era meu sogro, que adorava contar histórias do seu passado, no interior, em Breves, onde viveu até 1960... de passeios de barco pela Amazônia e de outras aventuras. E, desse jeito alegre e suave, é como toda sua família e os amigos se lembrarão dele", diz Silvia.

Braulino nasceu em Breves (PA) e faleceu em Macapá (AP), aos 88 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela nora de Braulino, Silvia Gomes. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 20 de julho de 2020.