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Candida Maria de Lima

1950 - 2020

Altruísmo tem nome e sobrenome, e tem sempre um pedaço de bolo pra adoçar a vida da gente...

Candinha e Maninha têm uma história de amizade que retrocede no tempo até os primórdios da infância. Ainda meninas, as duas eram inseparáveis; não raras vezes, Candinha ia brincar na casa de Maninha e acabava ficando para dormir. A casa dos pais de Maninha era também um lar para Candinha; irmãs de alma e de afeto, muito mais que apenas amigas.

As meninas cresceram, tornaram-se belas moças. Maninha casou-se com Remilton e foi ter sua própria casa, seu cantinho de recém-casada. Não demorou muito tempo para que as visitas de Candinha, cada vez mais frequentes, deixassem de ser visitas. Candinha foi ficando... foi ficando... Até ficar de vez, quando veio o primeiro filho do jovem casal. A casa de Maninha, então, passou a ser a casa de Candinha também.

Os anos foram se sobrepondo, o amor de Maninha e Remilton deu outros frutos: um, dois, três, quatro crianças nascidas do ventre de Maninha, tecidas ao mesmo tempo dentro do coração de Candinha. Os filhos eram seus também. Ela os amou a vida inteira como se fora uma mãe de carne. Assim também foi com os netos, seis crianças cuidadas, amadas e mimadas pelo amor imensurável dessa mulher que só fez dar de si aos que moravam em seu valioso coração.

Como gerente do Banco do Brasil, Remilton foi transferido de cidade algumas vezes. A família inteira se mudava de casa; Candinha sempre acompanhou. O casal e a criançada nunca ficaram sem os seus famosos quitutes. Os cabos das colheres pareciam varinhas mágicas nas mãos de Candinha; o mais simples preparo se transformava em iguaria; era uma quituteira de mão cheia.

Creme de galinha, feijoada, bolos de todos os tipos, tortas doces e salgadas e as coxinhas inesquecíveis faziam brilhar as refeições naquela casa. Candinha tinha prazer, não só em preparar, como também em ver com que deleite suas gostosuras eram saboreadas por todos. Não era permitido sair de sua mesa posta sem ao menos provar um pedacinho de cada delícia.

Nascida no Ceará, Candinha visitava seus familiares biológicos ao menos uma vez por ano. Mas sempre acabava voltando para junto de sua família do coração. Nunca se casou; completou o segundo grau, mas não deu prosseguimento aos estudos. Dedicou toda uma vida a amar como se seus fossem os quatro filhos e seis netos que vieram de Maninha.

De uma simplicidade ímpar, Candinha tinha gostos muito singelos para suas horas de lazer: assistia TV e fazia bolos. Aliás, quando via que alguém estava meio triste ou cabisbaixo, corria logo para a cozinha e se punha a preparar uma gostosura, como só ela sabia fazer. Acreditava que seus quitutes tinham o poder de aliviar a dor e o coração de quem sofria.

Assim foi Candinha, mais anjo do que gente, uma pessoa que passou pelo mundo para ensinar, a todos que tiveram o privilégio de partilhar a vida com ela, o verdadeiro significado de amor, altruísmo, generosidade e empatia.

Candida nasceu em Iguatu (CE) e faleceu em Natal (RN), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela nora de coração de Candida, Ligia Simone Guedes Pires Juca. Este texto foi apurado e escrito por Ana Macarini, revisado por Sandra Maia e moderado por Rayane Urani em 20 de novembro de 2020.