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Carlos Alberto Brasil

1944 - 2020

Nenhum filho ou filha saía de casa para uma nova vida sem ganhar um fogão de presente.

Fluminense apaixonado, fã de Roberto Carlos e de Nelson Gonçalves, Carlinhos Brasil nunca dispensava uma boa mesa de bar com os amigos. Era tão ligado às músicas antigas que, vez ou outra, soltava a voz em inspiradas serestas.

Grande contador de histórias, gostava de lembrar os tempos vividos sempre com gratidão e um enorme sorriso no rosto.

Metalúrgico de profissão, anjo da guarda por vocação. Era um verdadeiro patriarca, que zelou pela esposa, pelos filhos e netos, todos os dias de sua vida.

Foi para sua esposa querida, Vera Lúcia – com quem foi casado por cinquenta e dois anos -, seu último desejo amoroso: “Cuida da Vera, não a deixe ficar nervosa. Fala que estou bem e que tudo vai ficar bem...”

Exemplo de retidão e caráter, trabalhou desde os treze anos de idade, deixando aos filhos o legado da honestidade e da independência. Criou todos os seis: Ana Carla, Beth, Andrea, André, Vanessa e Carlos Alberto, para o mundo e para andarem pela vida sempre de cabeça erguida.

Havia um mistério de delicadeza que se repetia a cada vez que um filho saía de casa, para traçar seu próprio caminho: todo mundo ganhava um fogão!

Nunca ninguém soube o porquê; talvez tudo tenha começado com o primeiro fogão dado. Dono de um enorme senso de justiça, se fizesse algo por um dos filhos, era certo que faria exatamente igual por todos.

O que mais iluminava seu sorriso e aquecia seu coração, era saber que os filhos, esposa e netos estavam bem, felizes e com saúde. Cada conquista de um filho era uma vitória comemorada como se fosse dele próprio.

A família seguirá sempre unida, em torno da memória do pai, avô e marido amado por todos. Seus ensinamentos permanecerão vivos na lembrança de cada um, como a letra de uma música bonita que se canta quando está feliz.

O filho, Carlos Alberto, lembra do pai com a belíssima canção de Nelson Gonçalves:

“Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor”

Carlos nasceu em Duque de Caxias (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Carlos, Carlos Brasil Filho. Este texto foi apurado e escrito por Ana Macarini, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 13 de maio de 2021.