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Carlos Alberto Figueiredo Ribeiro

1972 - 2020

Amava a profissão de músico e cantor. Carisma e alegria eram seus sobrenomes.

Carlos "Mocotó" era luz.

Onde passava, iluminava com sua alegria e com sua música.

Tinha talento. Cantava e encantava com seu carisma. Não trabalhava, na verdade, ele se divertia. Adorava ser músico e, onde houvesse um violão, não se aguentava, ia logo pegando e fazendo a festa.

No dia de sua morte, foram muitas as homenagens. Tantas, que surpreenderam a todos. Semanas antes de ser infectado, registrou, em uma rede social o quanto a vida é frágil e como damos prioridades para coisas supérfluas: "...Pobre presunçoso é o homem que, presunçoso com todas as suas riquezas, bolsas, ouros, euros, dólar e conglomerados bilionários, pode desaparecer da face da terra por causa de um simples espirro!"

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Ilana e Cassiano prestam, na seguinte carta aberta, parte de suas homenagens ao irmão:

Ao Carlos, Carlinhos, Mocotó.

A cidade de Belém do Pará ficou mais triste quando, depois de 14 dias de luta intensa contra a Covid, Carlos Ribeiro, o Mocotó perdeu a batalha. Foi perda, porque deixou uma família desolada: sua mãe, Virginia, e seus irmãos, Cassiano, Yaná e Ilana.

Era jovial e cheio de vida, com reconhecido talento para a música, uma mulher que amava, Carla; uma filha querida, que morava em Brasília, Letícia; e um filho do coração, Vitinho; além de muitos "de adoção", como se referia aos seus animais de estimação, entre os quais se destacavam seus xodós: Thor e Cristal (cães), Chico (gato) e Lolo (coelho).

Sabíamos que era muito admirado e que tinha muitos amigos, mas não sabíamos o quanto era amado. Descobrimos isso quando ficou doente, diante das centenas de manifestações de carinho e mobilizações nas redes sociais em torno da sua reabilitação.

Essa admiração foi construída ao longo de seus 46 anos de vida, manifestada desde sua infância e adolescência, na Ilha de Mosqueiro (PA), no Colégio Nossa Senhora do Ó, onde começou a dar seus primeiros acordes. Em 1992, aos 19 anos, embarcou numa expedição de subida do Rio Amazonas, de Belém (PA) até Iquitos, no Peru, para refazer a viagem do capitão-mor Pedro Teixeira, em razão das comemorações dos 500 anos do descobrimento das Américas. Dizia ele, que essa viagem de dois anos, tinha sido sua maior escola de vida, pois, para sobreviver, assumiu o ofício de músico definitivamente, se apresentando nas praças das cidades em que a "caravela" parou, até chegar em Parintins (AM), onde permaneceu um ano tocando com o grupo do Boi Garantido. Só depois de pegar malária, voltou a Belém, a pedido da mãe, aflita.

Ao voltar, ingressou de vez na carreira artística, tocando nos principais bares e hotéis da cidade. Foi num desses bares, o "Au Bon Vivant", por volta de 1998, que ganhou seu apelido de "Carlinhos Mocotó", por causa de seu biotipo e cabelo grande, lembrando muito o personagem de André Marques, em Malhação. Ali, conheceu seus maiores fãs (Davi e Adelaide), que se tornariam também seus grandes amigos e incentivadores.

Graças ao público de "Au Bon Vivant" surgiram convites para tocar em aniversários, confraternizações e todo tipo de festa. Passou a convidar músicos amigos para lhe acompanharem, iniciando grandes parcerias, criando uma banda inovadora e revolucionária, que mudou de vez o mercado de bandas-baile nas noites de Belém, a Banda "Mocotó Elétrico".

Com sua veia empreendedora, o conjunto experimentou muitas formações e configurações. Por ela, passaram grandes músicos como Felipe, Andrey, Flávio, Eric, André, Betinho, Nelson, Lenilson e outros tantos talentos, como Carla, cantora da banda, que se tornou sua esposa.

Foram mais de 20 anos "fazendo a festa", como dizia o bordão que criou. Seu sorriso largo e o grande carisma conquistaram todos os que demonstraram tanto carinho nesse momento imensamente triste.

Carlos nasceu em São José dos Campos (SP) e faleceu em Belém (PA), aos 47 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelos irmãos de Carlos, Ilana Figueiredo e Cassiano Figueiredo . Este tributo foi apurado por Ricardo Pinheiro, editado por -, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 12 de julho de 2020.