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Carlos Alberto Pereira

1962 - 2020

Baiano arretado que adorava botar o pé na estrada e também reunir a família em casa, com uma carne no espeto.

Carlos Alberto partiu de Paramirim, no sertão da Bahia, para o interior de São Paulo em 1999. A mudança significava dar uma vida melhor para esposa Evani e o casal de filhos, Ivaneide e Carlos Eduardo.

Em Votuporanga, ganhou o apelido de "Baiano" e tornou-se caminhoneiro, depois de muito perseverar como pedreiro.

Da estrada, fazia contato com a família diariamente, conta a nora Joyce, a quem o sogro chamava de Dinda.

“Dinda, tô aqui em Belém do Pará, logo tô chegando aí", ela reproduz e declara, na sequência: “Sempre me pego pensando nos áudios que ele mandava”.

Quando chegava de viagem, o caminhoneiro reunia os filhos em casa para fazer churrasco ou galinhada e tomar uma cervejinha.

Esse baiano arretado, de fala mansa e arrastada, gostava muito de conversar, curtir o único neto, Heitor Luiz, e assistir a alguns vídeos no celular nos momentos de lazer.

Joyce destaca, entre risos, a imagem dele, na sala, segurando o palito pelo canto da boca e vendo vídeos com o volume bem alto, enquanto todos os familiares assistiam televisão em silêncio.

Ao descrevê-lo, a nora entrega uma lista extensa de adjetivos: sábio, bom, humilde, trabalhador, engraçado e divertido. Ela diz que sentia e ainda sente o maior respeito por ele.

Baiano estava na estrada quando adoeceu. Faleceu sozinho em Salvador.

Embora lamente a falta de despedida, do último abraço, Joyce acredita que Deus sabe de todas as coisas, e que levou o sogro fazendo o que ele mais amava: viajar.

“Hoje, nos faz muita falta. Não esperávamos que partiria tão novo, mas ele está presente todos os dias no coração, pensamento e orações da família”, declara ela.

As últimas palavras de Baiano para a nora foram: "Oiii, Dinda, vai ficar tudo bem. Cuida de Eduardo e Bezinha. Logo tô em casa."

"Ainda falo dele como se ele fosse voltar de viagem", finaliza Joyce.

Carlos nasceu em Paramirim (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela nora de Carlos, Joyce (Dinda). Este tributo foi apurado por Larissa Paludo, editado por Mariana Quartucci, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 3 de fevereiro de 2021.